terça-feira, 27 de maio de 2008



Penélope, querida fiandeira dos tempos, termine logo de tecer essas linhas. Querida e irônica Penélope. Penélope, Pe-né-lo-pe [não, não vou fazer algo meio Nabokov - preciso, aliás, ler esse livro].


sexta-feira, 23 de maio de 2008



Por algum motivo desconhecido, provavelmente precariedade de instalação ou sei lá o quê, o prédio inteiro do Veiga Valle hoje, à hora do nosso ensaio, estava sem iluminação. Foi, então, a orquestra inteira: cada um levando sua cadeira, estante, instrumento, partitura, tudo que fosse cabível para debaixo da mangueira do pátio.
Foi tão bonito, assim que se fez o primeiro compasso da Abertura do Festival Acadêmico [Brahms], o vento levando todas as partituras, que toda orquestra deve ter seu real momento de unidade, mesmo que irreconhecível.


Via Crucis



"Chorou um pouco. Era um belo homem, com barba por fazer e abatidíssimo. Via-se que havia fracassado. Como todos nós. Ele me perguntou se podia ler para mim um poema. Disse que queria ouvir. Ele abriu uma sacola, tirou de dentro um caderno grosso, pôs-se a rir, ao abrir as folhas.
[...]
- Se um dia me suicidar...
- Você não vai se suicidar coisa alguma, interrompi-o, porque é dever da gente viver. E viver pode ser bom. Acredite.
[...]
À porta ele beijou minha mão. Acompanhei-o até o elevador, apertei o botão do térreo e lhe disse: vá com Deus, pelo amor de Deus.
Entrei em casa, fui fechando as luzes, tomei o remédio para dormir. Lembrei que também disse: um dia mato alguém. Não é verdade, não acredito.
Tinha me falado num tiro de misericórdia.
Fiquei fumando, o cachorro me olhava no escuro. Como é que posso ser mãe para esse homem?, pergunto-me e não há resposta.
Não há resposta para nada."


 

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