terça-feira, 14 de novembro de 2017






saiu juntando tudo, todas as coisas soltas, as largadas, deixadas, as guardadas, todas, como quem diz “to indo, realmente indo”. Ficaram pra trás - esquecidas ou deixadas, não sei ao certo - as fantasias, ainda desavisadas da distância do carnaval. 



terça-feira, 8 de novembro de 2016


Despretensioso, isso que é desde o princípio; isso e você: talvez o grande trunfo - que eu reconheça. E com a leveza que isso te confere à mão (garantindo,  ao movimento, um destino como que incerto ao observador), afastou minha bagunça - basicamente livros xícaras fios angústias reminiscência - e pousou no papel a ponta do pincel passado sem peso na aquarela. Feito mancha, me insurjo forma. 

Me afano retrato e me me dou de presente roubado. Eventualmente, te me devolvo.
Por hora, desculpa... mas tava com saudade de mim.


domingo, 6 de novembro de 2016


"era uma visão, aquela, sim, 'dolorosamente impressionante', e Ultimo descobriu ali, pela primeira vez, como pode ser dilacerante o desejo, quando quem o oferece é o corpo de uma mulher. Ficou como que assustado. E talvez tenha sido por isso que, revendo devagar para frente e para trás com seu olhar aquele perfil sem trincas, começou, por assim dizer, a despi-lo do que tinha de feminino e a levá-lo em direção a uma beleza mais secreta, em que a pele se tornava uma simples linha, e o corpo, um desenho gravado em relevo na claridade da tela. Era algo que o tranquilizava, porque aquela beleza ele conhecia. Esqueceu-se da mulher e se concedeu outra perfeição, reparando a linha pura e o desenho até que se tornaram trajetória e traçado - e estrada.
[...]
Ultimo pôs o motor no máximo e dobrou-se sobre a moto, porque tinha alguma coisa pra lhe dizer e queria que ouvisse direito. Disse-lhe que tinha de chegar antes da morte, e conseguiria certamente, bastava que ela se comportasse bem. Disse-lhe para observar como a estrada decidira ajudá-los e se pusera toda retinha, para que pudessem chegar antes. E explicou-lhe que a beleza de uma linha reta é inalcançável, porque nela se desmanchou toda curva e insídia, em nome de uma ordem clemente e justa. É uma coisa que as estradas podem fazer, disse-lhe, e que, ao contrário, não existe na vida. Porque não corre reto o coração dos homens e não há ordem, talvez, em seu andamento". 

*

"A estrada que agora se abre a nossos olhos não se entrecruza com outra nenhuma. Está mais deitada que os séculos, suportando sozinha toda distância."


sexta-feira, 17 de junho de 2016


a única luz que entrava no carro vinha de um poste mais longe. Já fazia o silêncio da noite, e preenchimento não estava sentido: mal falavam, os dedos das mãos em zigue-zague de um, do outro, de um, outro. Deitou em certa ternura, ouvindo o que se havia pra ouvir: 
- seu coração bate diferente. 
Verdade que era preocupação já há algum tempo. Há pouco visitara o cardiologista. Eletrocardiograma. Tava tudo certo, batia bem certo. No papel, a agulha sentiu os riscos indo pra cima pra baixo, rabiscos de enormes formações geográficas vistas ao longe, cadeias montanhosas de picos angulares e vales abismos, tudo como devia. 
Mas batia diferente, tinha sentido também. Quando se deitava e estava tudo muito mas muito quieto, via o meio do tórax pular - normal?, nunca tinha visto pele pulsando junto com o que tinha dentro - e sentia bem no chão dos ouvidos a involuntariedade do músculo percutindo as paredes dos canais; quase podia sentir o sangue chegando às pontas dos dedos: mas como fazia pra voltar?, como escoava de volta, tudo que vaivolta, como voltava o sangue?, pra onde? Sempre se fazia perguntas como não soubesse as respostas, a surpresa de um novo conhecimento descoberto, e deixava embora em imaginagem as finitudes do corpo, propriedades supersticiosas das artérias veias capilares, os mapeamentos, toda essa cartografia desenhada em vermelho que escorria os segredos da existência, quais?, faria susto dar-se conta, não-dizeres hemoglobineos que vão traçando caminhos, coisa que é dada: reflete (na parede há um buraco branco, o espelho. É uma armadilha. Sei que vou cair nela. Aí está. A coisa cinzenta acaba de aparecer no espelho. Aproximo-me e olho pra ela: já não posso ir-me) reflete nos caminhos de fora também, ah sim, todo esse funcionamento manado de certa harmonia desses rios vermelhos ao Rio Vermelho, os equilíbrios das regências de toda energia entre toda coisa. Certo que era mais divertido que revisar esmiuçadamente a própria cardiovascularidade. 
Não se lembrava de uma noite qualquer, já de há muito: fazia qualquer coisa banal quando ouviu algo trincando. Pensou que alguma gata tinha derrubado um copo na cozinha. Não, chão limpo. Foi pra janela prum último cigarro naquela noite, quanto céu, sem perceber que fazia estrela por demais e que  cada conta de brilho era estilhaço. 


sexta-feira, 10 de junho de 2016


começa-se preparo. As varas os anzóis as iscas a paciência. Calcular horário, visto possível distúrbio que podem causar os insetos. As roupas geralmente específicas pro conforto na espera. 
Senta no aguardo, insuspeito. Iscas vivas?, minhocuçus ainda cheios de movimento pegajoso. 
Lança. 
Guarda os incômodos circulares concêntricos que fez a interrupção da superfície lisa d'Água enfraquecerem. 
Primeiro movimento é sumir peixe. Oferta de corpo assim levanta espanto. 
Espera. 
Afinal não é um corpo tão estranho assim. 
Vêm mordiscadas. Não é hora ainda, está tateando com a boca. Uns pássaros espertos observam de árvore próxima. 
Mordiscam mais forte, alguma confiança. Não é hora ainda, necessário maior ângulo do maxilar. Voam porque sabem. 
A boca fria cheia de água gelada dispõe então, finalmente toda. Brusco, fisga anzol: instrumento ardiloso, perverso. Entra que mal se vê, dada forma: ponta em fração de milímetro que, afiada, se expande. Parasse o tempo. Daí a linha firme invisível de náilon puxa conduzindo lenta tenaz dissimulada inflexível confiante sádica prum fora da água em que há tanto ar porém não. 
Os olhos vão secando; o desespero das guelras, inutilizadas membranas, correndo abrir fechar da busca. Escamas sujando, barro onde antes tão reluz: fazer apoio no chão às mãos de tirar anzol: estalo surdo que faz o arrancar do ferro rompendo as texturas da carne: fura quase despercebido, só sai no rasgo: pedaços ainda no estômago, voltando gosto na boca.


quinta-feira, 9 de junho de 2016


Acordei longe de casa, pensei. 
Mal pudera frase tão errada com sentido algum, seja o caso pensar: acordar pressupõe dormir, dormir há anos não me é um forte, e meus fortes das guerras antigas estão há tempos pro léu -, ficou uma boca de fogo ou outra meique dormente, preparo pela metade, bombarda em pólvoras jogadas àgua aguardando no tempo utilidade - grandes feitos então inúteis em minhas praias, a altas alturas porque mar aqui vez em quando voa grandes recuos predizendo volumes em ondas de quando tremece dentro, feito noite que mal passa nos anseios do dia que mal vê as dúvidas da noite que só acaba porque vem o sol que só nasce pra se pôr 
daí deram-se contas os fortes largados que sol despontou longe de casa, quão longe é possível no espaço-tempo, longe horas de ponteiros de relógios outros, longe wormholes que começam e terminam num mesmo lugar percorrendo o sideral conhecido em frações indivisíveis de segundos, saltos quânticos calculando todas as possibilidades e caminhos em todas dimensões direções, longe algumas estações de metrô, arniqueiras 
de casa que não esteve e não há, porque casa é onde se rodeia dos pequenos fragmentos dessa vida roseando memória se dizendo eu, safespace de conforto e construção, 
Tornar fortes abandonados em realeza de castelania - a beleza das reformas -, tornar ostentação dos palácios em abandono - teias aracnídeas finas resistentes pelos cantos e quadros 
a vizinhanca, as histórias de quem me coloca na xícara um café, as árvores que vou reconhecendo uma a uma, a hora em que o sol faz sombra de tal forma ali naquele bloco da frente. 


sábado, 28 de maio de 2016


, as histórias dos homens são as mesmas, só habitam novos corpos - forma física a se fazerem contadas - assim como a dor, que percorre as fibras junções os músculos em contração a exaurir os receptáculos d'alma, tamanha intumescência acusada da vinda desses diabretes de difícil exorcizamento, que vão dando dentro umas cambalhotas, piruetas circenses em equilíbrios a desafiar as físicas conhecidas, complicadas danças que a razão tenta organizar,  pas de deux de metódicas próprias que fazem sentido algum ao balé diastólico e sistólico que insiste em acontecer aqui dentro: urgências, e então se acabam com este aqui e correm a um próximo, volando tormenta, tornando em trama de sensível empatia tais (quase sempre rs) silenciosos eventos cataclismáticos que unem fio por fio, invisíveis, cada um que toca nesse grande mundo desafeto, mas tão habitado de surpresas e belezas que nos valem nesse plano (que vez em quando são usadas em malabaris na diversãozinha dessas coisinhas de risadinhas e asinhas dando volta na cabeça, fazendo turvar vista, mas sim: tão por aí as belezas sim) (tão, né?) (prfvr)


segunda-feira, 16 de maio de 2016


hoje, no décimo sexto de maio, veio céu se enchendo dum pretume já há algum tempo sem vista, porque a seca tava correndo antecipada, e cai aqui na asa mais do sul (desconferência geográfica: Brasília tem norte que não o é, nem sul é sul, e a guia se faz somente rumada, modo que a cabeça vem com uns desbaratinos de causas: desorientações pelas rosas dos ventos), cai aqui nesta Asa que aponta pras minhas origens e ventre um chuvisqueiro plumado, pra causar intermitência inda que pouca nas previsões dos meses porvirem em ar que seca garganta e torna o acordar um fazer incômodo, intermitência sem nutrição porém suficiente pra memorar a terra de seus perfumes quando-mais-a-água e roubar do passo-a-passo a poeira dos pés, que já vão cansando do percorrer dos caminhos desconhecidos ou conhecidos mesmo. Fadiga.  


sábado, 7 de maio de 2016


guardo Bruckner (mais especificamente seus primeiros movimentos da sétima ou nona sinfonia, a depender do dia - qual seu fim?, busca de luz mi maior, crepuscular desistência em aceite ré menor?) para raros momentos, quando há o tempo a correr silente os caminhos da casa, passando pelas coisas e bichos, quando os vincos entre os tacos de madeira antiga destes apartamentos se abrem em grandes cânions, madeira em carne, altíssimas paredes pulsantes, eu no meio bem me sabendo rodeado das próprias insuportabilidades, o cozimento lento das linhas melódicas infindas tratadas das diversas formas possíveis expandidas acrescentadas rasgadas adocicadas aquietadas brutas beleza perversão moldante plácidas deuses resquícios amabilidades quietamente furiosas ilimitando as fronteiras, as minhas a música, minuciosa vistoria e revisão, as perspectivas várias, o clímax que se desfaz enquanto ainda não se sabe ápice, os vinte e cinco minutos para que se conclua um princípio que não se esqueceu, porém tão diferente pois metamórfico, as codas cobrindo enormemente o chão. Guardo Bruckner pra quando preciso ouvir outrem percorrendo aqueles que meus caminhos diários - o lento e grave movimento do mais belo dos planetas orbitando retrógrado em mapa os pesos imensuráveis, astrologias cármicas, senhor dos tempos regendo organizações celulares involuntárias inconscientes cíclicas, materialização de princípios, eterno retorno erro, os anéis vistos de longe (porém não mais que poeira e resquícios) apontando firmemente os lugares-lacunas do preenchimento radiando a descoberta: preenchimento em si, tolham-se projeções - guardo Bruckner pra quando preciso ouvir outrem percorrendo aqueles que meus caminhos, a fim de tornar acompanhada esta lida diária tão só. 


sexta-feira, 6 de maio de 2016


as noites se estendem grandes distâncias, povoadas das criaturas de mitologias individualissimas - resquícios fantasmáticos - poder-se-ia os chamar sonhos inquisidores; pesadelos quiçá, desavisados que somos das qualidades estéticas errantes desses misteriosos fundos do dentro da cabeça - caminhantes de finas estradelas sinuosas de desconhecidos redores. Fosse o olhar menos assombrado pela luz-clareza da certeza do dia, cercassem os olhos menos as vendetas pelo arremate em queda, fôssemos mais crianças onde vicejam inda purezas naquilo que é belo, monstros tais transfigurar-se-iam musas tal o desconcerto de seus contornos difusos - como se se expandindo, pulverizando perfume dulcíssimo, molécula d'existência desgarrando se lançando ao nada que entorna, preenchimento esquivo - noturnas vidas temporárias, antes à luz dos dias inexistentes, vagantes em leve pisar: ouve-se somente o ranger das gaiolinhas que levam nas mãos (os vultos em pernas, qual sombra que faz sol quando toca a linha do horizonte, longuíssimas andando estreitas, as alças das gaiolinhas levadas nos dedos finos compridos de texturas frias e movimentos de delicada estranheza),  gaiolinhas onde murmuram dentro as pequenezas belas desses grandes apegos da vida, criaturinhas sutis porém de constituição firme, cantando as ladainhas em prece obsessiva que estruturam os desejos as pulsões as plenitudes desconhecidas.


sexta-feira, 22 de abril de 2016


Há algo de revelador naquela mirada da janela: não há folha que encontre o chão, permitindo ao ar realização física da paradeza, copa das árvores em pleno grito de imobilidade. Dentro, apito ensurdecedor na gaveta, que não se sabe uso ou não se sabe usar ou não se quer ouvir ou falta uma peça: jograis em vida. O aguardo do movimento que comunica à folha que seca de sol o momento da desprenda: queda livre, balançada de leveza, errante retorno: renovação. 

Num lado, somente aquilo que mais nos é íntimo e caro pode salvar. Doutro, é o desconhecido que  guarda a possibilidade da redenção. 


sexta-feira, 15 de abril de 2016


- tá bem?
To sim. Só besteirinha de menino bobo.
- essa palavra viaja bastante.


quinta-feira, 14 de abril de 2016


quando as histórias tiverem se tornado as dobras do cansaço do rosto, quando as noites da juventude forem passado que já não se diz, quando as paixões forem memórias guardadas que não se contam aos filhos e netos, e as manhãs improvisadas em água corrente (ali no fim da asa norte) forem lembranças acessadas com raridade, o ralear dos cabelos clinicando a desistência corporal, quando a manhã for preguiçosa acordada em café e horas escorridas pois o compromisso próximo é o almoço e a caminhada que o segue às sombras das sibipirunas - por vezes tapetes amarelos em tramas de natureza fiandeira -, quando o olhar já mais cansado observar os arredores e seus viventes fazendo predições porque os olhos já viram muito e conhecem os homens e seus tipos e sabem dizer o que ainda está por vir, quando os afazeres forem aventuras voluntariadas, quando a noção do tempo observar em equidade o novo bulbo que se arranja na mesa - e não se esperar a passagem dos dias mas a folha que nasce e cresce, os meses em broto -, quando a calma já estiver aceitada porque há pouco em nossas mãos, quando estes transtornos juvenis em preocupação se façam lembrados em ver a ansiedade das gerações ainda por vir, quando assentar que as histórias dos homens se repetem e só habitam novos corpos - formas físicas a se fazerem contadas-, quando os caminhos abertos com as pás e rastelos se chamarem Alameda dos Flamboyants, e os eixos (norte, sul?) forem estranhos feitos no concreto há muito sem visita, quando o amor estiver em constante companhia passando as folhas e brotos, e a saudade for palavra desconhecida, quando as línguas faladas forem somente uma e o silêncio não for incômodo - comunicação em sinais de eletricidade já há tanto se habituados, a leitura dos olhos, do corpo, dos gestos, do amor -, 
ladear aos meus 26 anos (meu deus, ainda 26), a ânsia senil.



segunda-feira, 4 de abril de 2016


o dia em que chegou na cidade (dessas hoje poucas, cujas casas guardadas pelo escuro da noite - pois a noite faz escura, protegida dos fogueiros em excesso e da eletricidade - inda tinham as portas sem passar trancas, lugar onde se deixam as cadeiras de palha em treliça esquecidas [nos mais mínimos alpendres, o cimento queimado ladeado das muretas mínimas {que possibilitam os aparentemente inertes afazeres, sagazes, das embeatadas que acompanham com os olhos o passo largo ou non troppo dos transeuntes - a depender da quentura do sol - e suas assuntadas, vindas das distâncias ou das esquinas mesmo} - há de se os ter, os alpendres] treliças que guardavam os segredos de Cotinha, filha de Cota (fazedora de bolinho de arroz de comer de boca boa que só vendo. Fila começa sempre antes das novenas) mais seu Zé da Arimateia, para quem caíam (feitas as tribeiras, já há muito sem cuidado, de casarões doutras épocas; sólidas fachadas em branco de cal escondendo as espessuras das paredes de terracota, o grande alívio dos interiores em dias mais acalorados - pois o sol ali podia fazer de doer, bandas onde não se pode habitar desprotegido ou caminhar pelas pedras da rua sem sombra, onde se ouve o sol ansiando abrir passagem no estalo das janelas, a madeira em dilatação) caíam os gracejos sobre Cotinha daquele rapaz já meio marmanjo, dado às serestas (um violão de sete cordas que era uma beleza, voz de boemia barítona que fazia tremores internos fragilizarem as mais castas das bem-criadas moças - que sabiam residir em tais proezas do feitio daquele rapaz certa malícia, certa marotagem que bem se vê proposital [saber porém de seus porquês, seus olhares em volátil ardência juvenil, a intangibilidade desse moço das prosas e cantorias, era parte da atraente situação - sabia-se por certo que aquele rapaz não fazia bem desposar, e quedavam-no como sonho fugidio de suas metódicas quotidianas]), filha do Zé da Arimateia, ali da venda onde os meninos mais faceiros compravam os traques pra logo correr a empestear a carcaça daquele sapo no meio da rua, violando as integridades do corpo do bicho - com dificuldade porque era morte ainda recente e não tinha secado ao sol, mas a tarde era longa e vazia e faziam da teima o vencimento da desfiguração, rompendo os feitos e criações da natureza, foi girino ali no largo da carioquinha, a brevidade da existência vivida por entre as beiras de rio pra acabar ali nas traquinagens às toas dos moleques - (desacompanhadas dos olhos sérios essas traquinagens, sadismos de origens intraçáveis - julgados talvez inofensivos às vistas mais desatentas -, quiçá não sabiam os aguardos do futuro), meninos faceiros atrapalhados vez ou outra pela carroça de cavalo que passava rumando a saída da Ponte Velha (pra assim poder passar frente a Matriz - a outra torre dos sinos nunca terminada, superstição [dizia-se que a primeira vez construída a atingiu um raio bem na sexta-feira da Paixão, enquanto entravam as longas filas em procissão na companhia do Senhor Morto, de modo que a gente de dentro mal soube o que houve, e o horror atingiu os mais distantes nas filas de velas - um grande pontilhado de luz resultando ao fundo em fogo de improporções, até as matracas calaram; da segunda, tremores de terra fizeram pesar o sino trazido das lonjuras onde se falavam já outras línguas, cavando passagem por entre os andares em escadaria, calçando-se em suas toneladas de bronze à direita da entrada principal da nave, onde então permanece lembrança dos desastres {que aconteceram em tempos imemoriais e são contadas das avós para os netos que contam para as netas, e dizem que as procissões em velas nunca tiveram mais os mesmos tamanhos - antes de uma beleza que trazia comunhão pr'essas gentes no peso do silêncio em retidão e serpenteava a cidade com a luz errante da queima dos barbantes em cera, e diziam ainda que as marchas fúnebres das bandas que acompanham o senhor morto - de datas indistintas e madeira pintada à mão, tornava em interna cadência a devoção pois era de uma proeza de capo-lavoro sua humanidade - as marchas da banda tinham tristeza verossímel pois eram tocadas nos mesmos trombones e souzaphones e clarins e bumbos que viram os grandes desastres da Matriz}] -, a carroça rumando a saída, a mão ungindo Pai Filho Espírito, os caminhos então protegidos em fé, que o chão da estrada maltrata os animais e as rodas e as ancas, e o destino, longe dias, é um somente vislumbre no final de grande desventura), Zé ali da venda onde maridos dividiam dois dedos de prosa e de pinga, zombeteando os afazeres domésticos e dizendo impropriedades das belezas mais jovens, os meninos faceiros compram traques, as meninas compram pequenas imitações em barro das panelas grandes do grande cômodo da casa onde ficavam as mães e tias e dindas assistidas pela criada (das pedras grandes que muretam o quintal tiram-se o limo, as pequenas florzinhas secas mais terra, um tiquim de água, e a tarde toda se ia escorrida na feitura destas comidinhas em panelinhas de barro das menininhas, - banquetes que não pereceriam às moscas e ao sereno. Fosse antes assim da vida feita, mal sabiam os aguardos do futuro - os pés descalços que não conhecem a donzelagem passam pelos amontoados de mamona, mesmo com aquelas secas caídas no chão [graças ao bom deus os moleques hoje estão demais distraídos com outras coisas quaisquer e não vieram aporrinhar a tacar mamonas e fazer guerra, brincadeira chateante que reserva os amores possíveis do futuro] fazendo doer o piso, mas há de se pegar aquela última florzinha ali no canto para enfeitar o último prato destes sumos de quintal em banquete) o dia em que chegou na cidade pelos velhos caminhos inutilizados que passam por detrás da Santa Barbara fazia sol com chuva (diz-se do casamento da raposa ou da viúva, neste terra em que não há raposas porém lobos altos esguios avermelhados, cuja curiosidade e mansidão entregam em bandeja a pelagem de raras cores, quistas nos detalhes dos alfaiates e outras prendagens - em lugares longes, porque esse povo daqui dizia trazerem resquícios do entre-mundos esses bichos, de natureza calma mas de olhos de gente e patas por demais compridas, tranquilos vermelhos agouros vindouros das matas ralas de árvores baixas que, quando adentram as casas, sentam aquietados nos fundos dos quintais compridos e guardam o dentro da casa com paciente calma: e nada faziam, tornando a presença para os habitantes da casa fonte angustiante, e se acontecia algo ruim logo criam ser porque o bicho tava lá. Era tal a agonia da vista da criatura que não se percebia: junto dela vinham borboletas de variados tamanhos que pendulavam por várias casas seguidas e logo vinha a notícia de vida e era tal a euforia que ninguém se lembrava do bicho habitante dos últimos dias - pois uma coisa era acertada: faziam guarda aos pequenos do entre-mundos e os traziam pra outra chance no amor em vida, as borboletas em comemoração flanando asas coloridas, flor em alastro a embelezar os dias vindouros; casamento de raposa ou viúva, nesta terra em que as viúvas não casam um'outra vez e fecham as janelas [pois o luto não é um processo de superação e sim autoafirmação em clausura e úmida escuridão dos quartos, solidão e auto-comiseração impiedosa a roer - quão lento as heras cobrem os camafeus ganhados presentes em noivado jogados aos jardins - as cordas vocais deixadas de lado do uso, porque a retidão tem de se fazer audível] e fecham as janelas das casas e respiram nos quartos até que haja sufocante umidade e se desfaçam indolores imperceptíveis em desmanchamento no breu trancado das portas - porque nas portas do luto sim, se passa a chave, para que fiquem guardadas da noite e do dia e das pessoas e das vozes e das músicas dos pássaros {feito difícil visto a algazarra todo fim de tarde das ararinhas dos coqueiros do cemitério, altíssimos, que unem em raiz o podre daquele chão do qual poucos se salvaram ao alvíssimo céu, como tentativa em caule de esticar os dedos e folhas ao mais alto-próximo do criador, mal sabiam estes aguardos do futuro} e assim era e assim todos sabiam, luto o diziam naquele lugar amor - "Sinha'Badia se foi ontem de amor" - e ficavam pois as casas fechadas, porque não havia velo para o amor e sim estes mausoléus que se tornavam as residências, e aos poucos a umidade carregada de matéria orgânica em semente, escapada pelas mínimas frestas das janelas e das portas desses quartos, enchia os corredores da casa e logo as salas e as falhas das janelas e cobriam aos poucos as coisas de fino visco, que esperava saúde em sol e chuva e ganhava forma de folhas e flores e perfumes - e com a ida do tempo, maior volume tomavam estas matas que permaneciam intactas até que se perdessem a memória de seus donos e seus nomes e suas histórias, e ficavam assim, permanecidas, por maestosa contemplação em ruínas no meio das ruas, grandes resquícios das paredes em cal e longuíssimos caules que verberam nos amores juvenis que buscavam inspirações; ali residia.) 
Chegou por detrás da igrejinha, que ainda restava sobre suas fundações cravadas na rocha do morro; o sol brandeado pelas finas gotas da chuva que, insistentes, tentavam molhar os caminhos de pedra há muito sem uso; grandes corredores de coqueiros e palmeiras imensuráveis de formas jamais vistas, trepadeiras de gavinhas sedentas cobrindo enormes espaços, pesadas em flor de cacho, orquídeas sem nomes memórias ou histórias de cores e ciência desconhecidas, perfumes de realidade dubitável e grandíssima leveza, neste grande e aparente abandono de meu deus do céu que foi só amor demais.


sábado, 2 de abril de 2016


das certezas, se os anos as me deram: uma delas é não me ter sido permitido o dom do passa-tempo fácil e indolor - vistas as sequências de casualidades e os efeitos das causalidades (e, se me permito breves elocubrações egóicas, rápido me concluo em conspirações sistêmicas de astros - ai, retrógrado Saturno em meu mapa de céu - ou ainda cármicos determinismos) - pois a aparente placidez no semblante, o riso fácil e a clareza dos olhos me velam ao mundo feroz selvageria interior (não felina veloz afiada - espessa selvageria qual magma em lento movimento interno de altíssimas pressões, calor e destrutiva incandescência), - penso enquanto, no espelho - ilusão ótica - retiro, um a um, estes pêlos grossos que me unem as sobrancelhas, estas farpas da minha humanidade orgânica pinçadas voluntariosamente em tentativa de meticulosa ação das mãos - que sabendo-se da sequência dos anos, supõe-se , não miram tão firmes, e, errantes, porém eficientes, ajudam adornar o de fora para tentar, quem sabe, o de dentro permanecer intacto e invisível, ah: estes ocultismos aos quais nos forçam as circunstâncias em prol da preservação destes cristais e diamantes, gestados dos nossos carbonos internos para que, quando só, seja possível se permitir abrir a janela (persianas coloniais de madeira) e residir, neste momento átimo, na refração de luz destas infusíveis tetraédricas formas de rearranjo molecular - já esta uma certeza das constantes físicas, isentas de autoengano: o reiterado maravilhamento das formas prismáticas dispersando branca luz em cor.


quinta-feira, 31 de março de 2016


- seria isso!? Duraria o tempo deste corte se fechar? A macieira em fruto nascida maçã das co-incidências atômicas, e o sádico ato de te tirar as sementes e torná-la pois infértil castrada imperpetuável antes de mastigada, maçã que em ardilosa manobra se escorrega por entre os dedos, voluptuosamente inanimada, a faca-serra em movimento de encontro à mão. Seria isso?!, o tempo deste corte se fechar?, o tempo desta pele aberta ruborizada em trauma da lâmina, tal perda da integridade cutânea, se permitir as biológicas reconstituições - tecidos vasos carne poros - cedendo à inevitável força destes processos naturais evolucionais da separação deste mundo interior daquele mundo exterior (sabedorias orgânicas imemoráveis sconosciute), essa alvenaria de corpo que isola os universos internos do universo externo único - vácuo, a inexistência de vida que se sabe, distorções temporais [conceitos estranhos às rochas que orbitam, elípticas, os astros grandes em volume e luz], distorções espaciais de causa: massa peso gravidade, [ai, essa gravidade, essa força umbilical da atração dos corpos] - essa tentativa de paupável esforço que se sente percorrendo nervos pêlos têmpora articulações pélvis até chegar à ferida exposta pelo aço inoxidável moldado para o rompimento celular, esta que criou permeabilidade acesso fragilidade vulnerabilidade, conscientemente indesejada, e a fazer fechar no silêncio colagenoso que escorre então pelos edemas e processos inflamatórios - a expulsão dos agentes agressores estranhos ao corpo, estes estranhos impulsos do corpo agressor expulso a pus e gozo retido, negação e rejeição. Seria isso? 
- talvez, - reticente, o gaveteiro das facas e outros utensílios, este que está aqui, que porém nos guarda para além de uma gaveta ou armário, bem à minha frente, que se brinca sério em pueril autoconvencimento. 

segunda-feira, 21 de março de 2016



ruína, coisa tal donde surgem, 
meados os assombrados resquícios pedra porosa dor mineral barro fim, 
inesperadas simbioses 
esporófitas sustos brotamentos 
arquegônios raízes 
verdes em vida.



quinta-feira, 8 de março de 2012




Das perdas de um nascimento tardio, a inconteste fluidez desafortunada: não escutar o grito anúncio dos ardinas e gazeteiros; o impossível em ver a beleza, maquiada em traquinagem, do realejo. 
Pena: ladear com os 22 (meu deus, já 22) anos a ânsia senil. 





domingo, 23 de outubro de 2011





Y a-t-il rien de plus triste que ce spectacle des jeunes espoirs et de l'enthousiasme juvénile, finissant par se changer en une sorte de sombre résignation, impuissante d'aller à l'encontre du marasme final, ou tout ce que l'artiste a acquis par son talent et son travail doit sombrer sans appel?





quarta-feira, 12 de outubro de 2011



Nenhum ato de desconhecida bravura. Somente a sempre-mesmice. E a óbvia percepção da busca pelo incômodo em cósmicas poeiras aquietadas. Buracos-negros e super-novas no solitário café em um chuvoso hoje. Feriados assim não deveriam existir.



quinta-feira, 22 de setembro de 2011



Importante era o quintal da minha meninice com seus verdes canudos de mamoeiro, quando cortava os mais tenros, que sopravam as bolas maiores, mais perfeitas. Uma de cada vez. Amor calculado, porque na afobação o sopro desencadeava o processo e um delírio de cachos escorriam pelo canudo e vinham rebentar na minha boca, a espuma descendo pelo queixo. Molhando o peito. Então jogava longe canudo e caneca. Para recomeçar no dia seguinte, sim, as bolhas de sabão. Mas e a estrutura? "A estrutura", insistia. E seu gesto delgado de envolvimento e fuga parecia tocar mas guardava distância, cuidado, cuidadinho, ô!, a paciência. A paixão.

Beto: "Se fosse desses, diria que isso é a vida dizendo os caminhos certos". Sou desses. E também sou (meninote, coitado) que: calma, dedicação, estudo, perseverança (porque por outro lado linha reta caminhou, sem saber onde vai dar. No breu, sigo o sol. (...) Me alimento desse breu, já nem sinto quem sou eu: noturno, fugaz. Já não sei se sou capaz de parar. Bifurcação, entroncamento, contra-mão. São ruas sem fim, vias de fato aos pés de quem desrespeitou sinais e atravessou ileso. Decidiu flutuar, quis plantar de peso. Quando a noite cansar e a luz brotar a esmo, sigo meu caminhar: nunca amanheço o mesmo) Mas é isso: centro. Foco. É isso, empurrando a vida e o acaso. Como um aprendiz Pekka-Salonen, que em sorte de substituto despontou, numa última hora causada pela saúde do mestre. É isso, empurrando a vida e o acaso. E uma simbólica Scheherazade, 27/09/11, deixo em registro.

Labareda pra me consertar, 
fogo pra me aquecer de perdão. 
Não há justiça sem ceder, 
não há justiça sem amor 
e se a gente nunca se entregar.
(...)
Não há justiça se há sofrer, 
não há justiça se há terror, 
e se a gente sempre se curvar.

Fênix.


quarta-feira, 6 de julho de 2011



Almoço na casa da vó, hoje, que estava em divertidíssimo em estado de bom humor. 
Gabi recém-matriculada, universitária, morangos com chocolate derretido, jeito simples de comemorar. Mariana explosiva em desenvoltura e extroversão. 
Mãe satisfeita, orgulhosa, leve (em mim o peso dessa última raridade). 
Todos rindo rindo rindo de se fartar em riso, e no meio da minha gargalhada exageradamente alta e conhecidamente escandalosa, um choro escondido (que o chorei de verdade, não é poesia, rs), porque era uma felicidade tão imensa que precisava de forma física, para além do som do riso, ou para além do sentimento em si, e transbordou. E só conseguia pensar numa coisa: 
era isso, era exatamente isso o que eu queria dizer, era isso e só isso.



quarta-feira, 11 de maio de 2011



  Tenho, ignorante que sou, uma sensação de agraciado, certo de que nessa jovem triplamente iluminada - pelo sol da tarde, pelas chamas das velas, pelo meu êxtase - e em quem a enfermidade, mais do que uma pena, foi um desígnio para resguardá-la até que emergisse, das entranhas do tempo, este minuto, residem as venturas da vida e que, ligando-me a ela, aposso-me de grandezas que não entenderei e que nem sequer adivinho. Arpoado em minhas profundezas pelo seu olhar, ofereço-me com a máxima candura, imaginando que este brio de súbito gerado em meu espírito pode comprar a paz e o júbilo.
  ridi, Pagliaccio!, e ognun applaudirà! Ridi sul tuo amore infranto, del duol che t'avvelena il cor.
  Vi nesse moço, quando me pediu a mão de Joana, o traço da morte. O aviso. O sinal. [...] "Desculpe que lhe diga: tenho visto poucos homens tão franzinos. Não digo no corpo. É por dentro. Feito para trabalhar de ourives. Ou de imaginário, ficar sentado em si, fazendo nossas-senhoras, meninos jesuses". [...] Devia ser enterrado num caixão azul, feito os meninos pequenos.
  Os que fiam e tecem unem e ordenam materiais dispersos que, de outro modo, seriam vãos ou quase. Pertencem à mesma linhagem FIANDEIRA CARNEIRO FUSO LÃ dos geômetras, estabelecem leis e pontos de união para o desuno. Antes do fuso, da roca, do tear, das invenções destinadas a estender LÃ LINHO CASULO ALGODÃO LÃ os fios e cruzá-los, o algodão, a seda, era como se ainda estives- TECEDEIRA URDIDURA TEAR LÃ sem imersos no limbo, nas trevas do informe.
nas trevas do informe, ao horror se enfim cedido, o cume, leocádia visto como do fogo se vê (e em ainda vida), o riso da platéia, força.


quarta-feira, 27 de abril de 2011



Como se seqüestrasse a objetividade, ou a subjetividade. Como se seqüestrasse. Um grande afogar-se num grande nada ou num grande si. E o desafio. Desafio qual não se sabe; desafio. Talvez um: o desafio da perda, como apesar de óbvia não se a conta. Fácil se fosse perda como vida desde berço, e então se pergunta sobre a graça em coisa qualquer. Eilaiá, adoro eilaiá. Como se o comemorar da vida não fosse um grande apagar das vinte e uma velas em sopro. Sopratutto, rs. Eilaiá, adoro eilaiá. Olho a Callas, Medeia, e me lembro que morta só de desgosto, fortaleza desmoronando por e para. Talvez por e para dentro. Talvez só por e para. E o desencontro dos anos. Quantos? Semana Santa e os motetos e matracas; passou, ano que vem vejo Verônica cantar novamente: Oh, vos omnes qui transitis per viam, attendite et videte: - .Videte? Viste tu? Tu viste. E se paro de escrever agora é porque me escreveria
bobeiras e quaisquer coisas ad infinitum, 
enquanto ouço Ophelia enlouquecer na voz de Mady Mesplé e me deixo seqüestrar.



quarta-feira, 13 de abril de 2011

por vezes, a impressão de que a Lua se cobrindo porentrenuvens seja um ato de vergonha por nos ver. Eilaiá.

quinta-feira, 7 de abril de 2011


"- But, wherefore dost thou not look at me? Thine eyes that were so terrible, so full of rage and scorn, are shut now. Wherefore are they shut? Open thine eyes! Lift up thine eyelids! Wherefore dost thou not look at me? I still live, but thou art dead, and thy head belongs to me. I can do with it what I will. I can throw it to the dogs and to the birds of the air. That wich the dogs leave, the birds of the air shall devour. Ah... thou wert the man that I loved alone among men. All other men were hateful to me. But thou were beautiful. Well, thou hast seen thy god, but me, me, thou didst never see. If thou hadst seen me thou hadst loved me. I saw thee, and I loved thee. What shall I do now? Neither the floods nor the great waters can quench my passion. Ah!, ah!, wherefore didst thou not look at me? If thou hadst looked at me thou hadst loved me. Well, I know that thou wouldst have loved me, and the mystery of love is greater than the mystery of death.  [...] There was a bitter taste on my lips. Was it the taste of blood? Perchance it was the taste of love. They say that love hath a bitter taste.

- Kill that woman!"


Ceder ao horror.

segunda-feira, 21 de março de 2011



Um dos problemas é não sabermos a distância da ponta do Leocádia às rochas meio sumidas n'água [e no movimento revolto do mar não se sabe se água ou rocha]. Porque o caminho [e ao dizer "caminho" me faço arriscado porque caminho é um decidido nada no centro e um algo de um lado e doutro] porque o caminho é vida e mal se repara, somente se vai vivendo, subindo que mal se sabem degraus. E, quando chegamos ao topo do promontório, [pois cegos de um véu-grinalda] não sabemos dizer a queda; outro problema não sabermos nem dizer queda ou salto ou força ou vento. E ainda um outro dos problemas é mal sabermos quem de fato está ali àquela beira; tão grande caminho para se chegar até lá quem o entrou mal o sabe um fim [reconhece-se somente dentro de um eu, se há eu, a mesma aquela crença que teve Safo], modo que devia-se recobrir-se e pisar [lá no chão daquele alto] em espelhos e olhar para baixo com finalidades tantas, pois mal se sabe a altura, mal se sabe salto força queda vento e mal se se sabe.
Sabe-se somente o mar, em espreita espera, com a serenidade de coisa que, sim, sabe-se eterna.



quarta-feira, 16 de março de 2011

terça-feira, 25 de março de 2008:

sábado, 12 de março de 2011



Ontem, num dia cinematograficamente chuvoso, tiveram que tirar minha bisavó de cima do caixão do meu tio-avô. Aquele tio, porque nunca foi tio-avô mas só tio, aquele tio que quando criança passava medo com a escada de cimento no fundo do quintal do casarão de Goiás, dizendo ser ali o canto de fumo da Muda, criada que morreu quando ele criança, mas que ainda freqüentava a casa por costume. Que chamava de Vitoca o primeiro sobrinho-neto, que sempre foi só sobrinho. Que dizia que a mãe tinha letra e pés de princesa, num rubor em seus oitenta e tantos anos. Ela, que com letra e pés de princesa, sua mãe, mãe de minha vó, vó de minha mãe e minha bisavó sempre vó porque foi sempre só vó, ela que com letra e pés de princesa ontem precisou ser tirada de cima do caixão para que finalmente o pudessem descer para descansar da diabetes, da hérnia, do coração que há muito falhava, da família, dos tudo que se guarda dentro, porque uma hora se há de descansar.
E eu poderia dizer tanto sobre porque dizer sobre diz sobre mim, mas não há muita vontade além da de descrever a cena. A cena deve dizer tudo, a cena da bisavó que sempre foi só vó enterrando o tio-avô que sempre foi só tio e contava histórias de entidades e não deixava dormir. Sou eu. Árvore, raiz, que imagem piegas. Porque talvez não interesse muito se de fato existem dimensões diferentes para cada escolha, esse é o tipo de questionamento que nos deixa numa waltz for all life, o importante é só a tormenta do Se não ser maior que a força da vida estourando microscopicamente nossos poros, se numa dimensão se noutra ou se tudo só é,



sábado, 26 de fevereiro de 2011

Assédio.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

CENA 1
Casa do sítio / Balanço / Exterior / Manhãzinha

O sol se levanta, trazendo uma luz nova. A estrela d'alva ainda brilha no céu da manhã. E uma lua se desmancha. MARIA, vestida da cor do campo, com todas as suas flores, se deleita em seu balanço, que voa, amarrado ao tronco de uma árvore.

domingo, 16 de janeiro de 2011



"Non che t'aspetti qualcosa di particolare da questo libro in particolare. Sei uno che per principio non s'aspetta più niente da niente. Ci sono tanti, più giovani di te o meno giovani, che vivono in attesa d'esperienze straordinarie; dai libri, dalle persone, dai viaggi, dagli avvenimenti, da quello che il domani tiene in serbo. Tu no. Tu sai che il meglio che ci si può aspettare è di evitare il peggio. Questa è la conclusione a cui sei arrivato, nella vita personale come nelle questioni generali e addirittura mondiali. E coi libri? Ecco, proprio perchè lo hai escluso in ogni altro campo, credi che sia giusto concederti ancora questo piacere giovanile dell'aspettativa in un settore ben circoscritto come quello dei libri, dove può andarti male o andarti bene, ma il rischio della delusione non è grave."



segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Porque não me canso de dizer sobre ele:
Sinfonia no.10, primeiro movimento. 
Lá pelos dezesseis minutos, claro que depende da gravação, uma re-exposição do tema; 
mais lento que o normal, mais lento que o adagio que titula todo o movimento. Lentíssimo, pianíssimo, somente cordas, solitárias, porque a solidão é um grito surdo de medo nesta sinfonia; 
e, quando menos se espera, surge, deste pianíssimo, uma afirmação em Lá menor longuíssima, que engloba tudo, e tudo some neste fortíssimo, no tenuto das cordas, no arpeggio feito pelos trompetes e trombones;
um ritardando e, de repente, desmancha-se tudo num scherzo, que de novo e rapidamente se torna lento, como que os pedaços dele próprio caindo fossem o scherzo em si, e, a lentidão, fosse as coisas se ajeitando ou parando de cair ou indo para um outro lugar qualquer; 
um acorde diminuto nos sopros, e, como um sopro arrebatador vindo de dentro, um pesadíssimo e inesperado quase-cluster de toda a orquestra; surge um trompete que a qualquer coisa cobre, segurando um Lá, acima de tudo e todos e todas as coisas; novamente um cluster, 
e tudo parece então se acalmar numa grande desistência orquestrada.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Mahler insiste em aparecer por aqui. Por aqui quero dizer no blog, quero dizer em mim. Mahler aparece pouco onde devia mais aparecer. Mas por aqui insiste em vir. Sehr langsam und noch zurückhaltend, porque não se pode terminar num burleske, mesmo que não seja um burleske qualquer, mesmo que seja um dramático burleske mahleriano. Há de ser um sehr langsam, há de se acabar sem que se perceba, de forma que as cordas fiquem cada vez mais piano, piano, pianíssimo, até que depois de certo tempo se perceba que elas pararam de tocar porque a dor de escutá-las se foi.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Acabei de acordar do pequeno intervalo entre as aulas da manhã e da tarde. E sonhei que estávamos num carro, nós dois na frente. Tinha uma criança indo para lá e para cá. Te perguntava por quê diabos nunca havia me contado que tinha uma filha, era uma menina. E eu disse para ela: vem cá. Estávamos num túnel, qualquer coisa assim, mas era num lugar familiar. Perguntei seu nome, ela disse "Patrícia. Não, Matrícia. Hehe, Patrícia mesmo, te enganei", e me disse que tinha medo das pessoas, se encolhendo no meu peito. E eu a abracei e disse calma, Patrícia, nem todo mundo nesse mundo é ruim, e já acordei chorando.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Quando o morador de rua que te pediu um cigarro diz "mano, tu tem cara de maluco hem?", saiba que este é um dos ápices da sua vida, rs. 
Então se rosna para ele.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

no pátio do Departamento de Música há um flamboyant ou um bougainville, também nunca sei qual, 
que germina cresce floresce sombreia e deixa cair seus vestígios vermelhos no chão.
 e não se repara.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

há muito tempo, Lyanna comentou num post:

Minha psicóloga me disse também há anos que o quarto era reflexo do interior. De onde se tira isso? Mentira, ela só queria que eu deixasse minha mãe feliz dando um jeito nos bichos que, isso sim, é abiogênese, surgiram dentro da minha gaveta. Uma grande balela, a gente nunca consegue  se arrumar por dentro. Logo, não faz sentido arrumar o quarto. Ou alguém ainda pensa que um guarda-roupa em ordem de cor é esteticamente mais viável do que as blusas nadando no chão? Que retrô.

e neste momento, grande bobeira praticalizar [????, rs] só neste momento, estou fazendo um esforço mahleriano para internalizar. blusas-no-chão-blusas-no-chão-dá-pra-viver-com-blusas-no-chão. E calças e livros e partituras e caixas, meias, fones de ouvido, celulares que o meu estragou e agora tenho dois, e sacolas e chinelos e tênis e enfim vou dormir ou amanhã acordo com o blog cheio de arrependimentos escritos.


"Depois do terremoto, que havia destruído três quartos de Lisboa, os sábios do país não encontraram um meio mais eficaz para prevenir uma ruína total do que proporcionar ao povo um belo auto-de-fé; fora decidido pela Universidade de Coimbra que o espetáculo de algumas pessoas queimadas a fogo baixo, com grande cerimonial, é um segredo infalível para impedir a terra de tremer.
[...]
A mitra e o sambenito de Cândido traziam pintados chamas inclinadas e diabos sem rabos nem garras; mas os diabos de Pangloss tinham garras e rabos e chamas verticais. Assim vestidos saíram em procissão, e ouviram um sermão seguida de bela música em fauxbourdon. Cândido foi açoitado em cadência, enquanto cantavam; o biscainho e os dois homens que não quiseram comer toicinho foram queimados, e Pangloss foi enforcado, conquanto não fosse esse o costume. No mesmo dia, a terra voltou a tremer com um estrondo assustador.
Cândido, aterrado, transtornado, desvairado, todo ensangüentado, todo palpitante, dizia consigo: 'se é este o melhor mundo possível, como serão então os outros? Vá lá que eu apenas fosse açoitado, já o fui entre os búlgaros. mas meu caro Pangloss, maior dos filósofos, era preciso ver-vos enforcar, sem saber por quê! Meu caro anabatista, o melhor dos homens, era preciso ver-vos afogar no porto! Senhorita Cunegundes, pérola das donzelas, era preciso que vos abrissem o ventre!' ".



flautim, quatro flautas, quatro oboés [corne-inglês dobrado], clarineta em mi bemol, três clarinetas em si bemol e lá, clarone, quatro fagotes [contra-fagote dobrado]
quatro trompas, três trompetes, três trombones, tuba
tímpanos, bombo, caixa, pratos, triângulo, tam-tam, três sinos, glockenspiel
duas harpas, violinos I, violinos II, violas, violoncelos, contra-baixos.


- Andante comodo.
- Im tempo eines gemächilichen Ländlers; Etwas täppisch und sehr derb.
- Burleske; Sehr trotzig.
- Sehr langsam und noch zurückhaltend.

em uma noite só, para que fique garantida a clareza.

terça-feira, 28 de setembro de 2010



não raro [ou melhor, freqüentemente, quando minha indecente relutância - em me lembrar que costumava, vez em quando, dar uma de quem escreve algo - resolve dar uma pausa] não raro escrevo sob influência de catástrofes climáticas, com o perdão de quem, de fato, já sofreu uma, rs; 
fato é que a paisagem do cerrado brasiliense se permitiu hoje ser vítima de uma tempestade de poeira que deixou tudo tão cinza, questão que me deixou com leve curiosidade por essa cidade não se dar nem ao trabalho de colorir de marrom o que era para ser azul. Mas cinza. Poeira poeira. Mas poeira pra mim é marrom. 
Enfim, passado o vento no céu, este se coloriu [e colorir aqui se torna uma palavra completamente inadequada] de cinza nos horizontes todos, e subindo, subindo, um cinza azulado, e subindo, um cinza esbranquiçado. E me sentei na sacada tentando - em divertido aproveitamento de fim de tarde - tentando decifrar se era céu-azul-acinzentado, se era nuvem de chuva carregada, se era céu-branco-acinzentado, ou se era nuvem cinza de poeira. Era tudo numa textura tão homogeneizada de cinza-azul cinza-branco e cinza-cinza que eu não sabia dizer que coisa era que coisa. 
E me diverti pensando que um dos pontos da vida é justamente esse: tentar descobrir se nuvem é céu, se céu é poeira ou se poeira é vida. No final das contas, depois de tanta seca, há de ventar para chover.
Ai ai. Tou ficando brega. 
Beijo, Ly.



terça-feira, 6 de julho de 2010



Hoje me coloquei debaixo d'água e me lavei, me lavei de o que havia ficado desde Março, água escorrendo ora vermelha, ora transparente e líquida como se é água, ora meio marrom terra, granulada e áspera como. And inside we are still wet.

Meu semestre foi o prelúdio da Traviata. Antes com ritornelos, cortes e recortes e re-exposições de temas.
Agora, meu semestre foi o prelúdio da Traviata. Da capo al fine.
Agora, hoje.


segunda-feira, 5 de abril de 2010



Na quarta-feira, sim, sei, há tempo, mas não me adapto à internet e ao blog e às suas funções de comunicação instantânea por gostar do coser e etc etc, na quarta-feira passada o céu amanheceu salpicado das nuvens novas que acabavam de se formar subindo dos tantos gramados de Brasília, eu adoro essa coisa meio fantástica da nuvem e gosto também de pensar assim [com mais uma descida, rs] da chuva, apesar de o Beto me insistir que pouquíssimas chuvas são d'água subida do chão, porque eu questionava todo o tempo o seco de Brasília [and inside, we're all still wet] se há um lago para quê. O céu estava salpicado dessas nuvens de um jeito uniforme que estava tão bonito, como que meticulosamente posicionadas, umas atrás das outras, e eu não ousaria dizer, apesar de, como alguém que, não me lembro exatamente quem nesse momento, gosta tanto de lembrar que escreveu Clarice, talvez seja eu mesmo e não me faça a ligação, apesar de, não ousaria dizer que ele estava ironicamente belo, o céu, praticamente se atrevendo a ser somente encorajador. Então fui tomar um café naquela padaria da quadra, como ainda pretendo fazer tantas e tantas vezes, mas em melhor companhia que todos meus assombros dessa quarta, meus assombros de amor e distância e saudade.



sábado, 20 de fevereiro de 2010



"Quando [Mahler] partiu para os Estados Unidos, um conclave de espíritos progressistas de Viena se reuniu para lhe dar adeus. 'Vorbei', murmurou Gustav Klimt quando seu trem arrancou."



quinta-feira, 3 de dezembro de 2009


depois de tanto tempo, volto a postar num impulso um tanto bobo, admito. É que apesar de aparente tranqüilidade se passa tanta coisa pelas nossas cabeças. Sempre é assim, nada de novidade. O que aconteceu foi o seguinte:
Mariana semana passada queria tanto que eu iluminasse nossa árvore de natal. Comprei, mesmo sem poder, ando devendo meio mundo, rs, as luzinhas; coloquei todas, super cansativo, imagina só, aquilo dá um trabalho de verdade!, mas nossa casa está linda linda. Depois, todo mundo foi dormir. Peguei então uma xícara de café, que nem mais me tira o sono, e sentei no tapete da sala, de onde podia ver a árvore, que ficou bela, as plantas da sacada brilhando, todas iluminadas, assim como a porta da varanda. De canto, ainda podia ver o portal do corredor, onde colocamos uma pequena guirlanda. Tudo iluminado e nenhuma luz acesa. Foi quando pela primeira vez vislumbrei tudo por um prisma que ainda não me tinha vindo: nessas todas decisões de vida que andei passando por, estudar fora de Goiânia, traçando metas, ter aula com fulano, com beltrano, juntar dinheiro para fazer tal coisa, masterclasses não sei onde, curso de verão em tal lugar, enfim, pela primeira vez eu entendi que optei por não ver minhas irmãs crescerem, mesmo sem perceber. Deu um aperto enorme no coração. Optei por não as ver crescer. Assim como mamãe. Vou as ver estar. Não ficando. E me faz tanta diferença. Sei que de certa forma é exagero. Vou estar aqui todo fim de semana possível. Férias. Mas reclamar que não quero ir pegar a Mariana na escola é tão gostoso. Brincar com a Gabriela por causa do namorado novo é ótimo. Deitar na cama da minha mãe enquanto ela faz palavras cruzadas me deixa feliz. Todas essas coisinhas do dia que enchem a gente, seja lá do que for. Alegria, cansaço, tristeza, rotina, presença. Sou um manteigão de vez em quando, não tenho como negar, rs. Enfim, tocando a vida, fazer o quê. Não posso casar as meninas para depois prestar vestibular. O que é um saco, porque eu bem queria, rs. 
Enquanto escrevo, assisto a 6a. do Mahler. Abbado sendo o gênio que é, emocionado sempre com música, que mais se deveria pedir de um maestro tão fantástico. Fico olhando essa emoção toda e imagino o que se passa pela memória dele. O que ele deixou para trás. Será que ele estava com a mãe quando ela envelheceu? Ou só sentia de longe a alegria de mãe pelo filho satisfeito? É isso que se passa quando rege o último movimento? Os hammers misteriosos do final da 6a. sinfonia. Tudo de cor, como quem sabe o que vai sentir com cada trecho e se deixa saber e passar por tudo aquilo, mesmo que de novo e de novo, não se precisa de um gráfico para lembrar isso que vem de dentro. Se sabe o que sentir, se sabe o que reger. Mesmo que cada vez seja diferente da última.

Não deveria pensar nessas coisas por agora. Ainda nem fui aprovado. Ainda tenho tanto a estudar, fazer, ler, 
1, 2, 3, 1, 2, 3, 4, 1, 2, 1, 2, 3, 4, 5, 1, 2, 1, 2, 3, diz o final da Sagração, e nessa a gente vai indo, descompassado. 
Enfim, queria gostar menos. E isso é o que menos quero, rs. 
Blábláblá, chega de baboseira sentimentalóide por hoje. Manteiga manteiga, rs.


segunda-feira, 26 de outubro de 2009



É nessa época do ano que sol-fim-de-tarde bate no meu quarto (agora em tempo de verão, sol-início-de-noite). Então me fecho nele e fumo um cigarro, só para ver os raios amarelos que se formam através das grades. Um cigarro é mentira, venho pro quarto e fico por aqui esperando que a semana passe e faça seu trabalho. Sozinha. 
e Transbordando porque ainda tenho um cinzeiro solitário, mas, como se diz, o final de semana está aí, rs. Sorriso, right on the corner of my mouth, sorriso de lembraça. Há muito tempo disse que só fazia esquecer, lá no comecinho, bem dos primeiros posts. Ainda acontece, rs, verdade, eita cabeça ruim, but just not the same subject. Depois, há algum tempo, disse que só fazia lembrar, pff. Enquanto viajava. Dois anos, quase. 
No momento, só faço viver, porque agora não o faço só para mim. Precisa-se de mais algum motivo para? Só só esse. Ir indo e ir indo não do jeito que se vai indo com a barriga, nah, nah, do jeito que se vai indo com sorriso mesmo, com um contentamento esquisito. Com borboletas no estômago, de ser sempre um susto alegria, de todo dia ser não só mais um. 
Sorriso de orelha a orelha.




quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Rápidas brasilienses

Compreendo se alguém, algum dia, enlouquecer completamente, pirar, despirocar (ops, essa talvez melhor não, rs), enfim, ficar completamente fora de si durante uma prova de teoria. Sem culpa para as questões relativamente simples, mas putaqueopariuquemerda aquele povo solfejando à volta "Cai cai balão" sem parar pra tentar escrever a porcaria numa pauta vazia, que aquilo é muitíssimo complicado, rs. Primeira nota dada. Saí correndo daquele auditório.

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Com o carro frente ao Teatro Nacional, pensei: se para chegar à entrada se desce uma estreita escada em espiral, deus!, como se chega ao palco?

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Pi e Victor lêem (blablabla pra norma) em manchete: "Seria milagre? Madonna engravidou de Jesus?"

Victor: como se chama?
Pi: incesto, rs.

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Expressas como a L2. Beijos!



sábado, 15 de agosto de 2009



A pérola da noite ficou por conta de brincadeirinha já recorrente: criar tempos verbais impossíveis. Havia dizendo, houvera estando, havendo tido, blablabla, chegamos em havendo estara. Na hora a gente não reparou que estara não existe, rs, que o correto seria estivera, mas enfim, nos divertimos horrores pensando que esse seria o nome ideal para a próxima filha de Baby Consuelo. Havendo Estara. Com Sarah Sheeva, Zabelê, Nana Shara, Kriptus Rá Baby, Krishna Babye e Pedro Baby, formamos um grupo totalmente harmônico. Beijos, Baby, sem essa não haveríamos tendo essa inspiradora e fantástica luz. 

(cadê o conteúdo, Victor, o conteúdo?, rs.)


quinta-feira, 13 de agosto de 2009



Descobrir que vou ter que reger uma peça para coral não me deu muito medo. Tocar o violino está super ok. A teoria, em vias de ficar super ok também. Solfejo, ditado rítmico, blablabla. Mas meu-deus, como tenho medo do piano. 

O P I A N O
[voz de Galadriel transtornada-possuída]

todas aquelas teclas, fico me lembrando do piano por dentro, aqueles mecanismos todos, a idéia na realidade é quase simples, assim como é simples todas as notas estarem ali prontinhas na sua frente, só esperando serem tocadas, só esperando, rs, que alguém as toque de forma genial, que dali se escute música. Mas também estão lá todos aqueles martelos, aquele tanto de corda, os pedais, os afinadores, pensa afinar 88 notas, ai credo, algumas triplicadas para que a nota soe, enfim, tudo ali esperando que se toque, que se toque
estou com medo pela primeira vez desde que tomei minha decisão.


quarta-feira, 12 de agosto de 2009



ah, explicação: 
a imagem é Maria Callas fotografada como Medea, ópera do italiano Cherubini. 
Medea era netinha querida do deus Helios, filha do Rei da Cólquida, blablabla. Paga de boa moça, até que, quando impedida por seu pai de se casar com Jasão [Hera deu um jeitinho de convencer Eros a fazer cair de amores, rs], quando impedida fugiu com o rapaz, esquartejou o irmão e o espalhou, a fim de atrasar o pai em sua busca, sabendo que ele procuraria todos os pedaços para que houvesse uma sepultura decente. Depois disso, acontece um monte de coisinha, picuinha dos deuses, rs, e Jasão a trai. Tsc tsc, Medea louca mata os filhos que tiveram juntos. 
Enfim, she gets her revange. 
Callas bem que queria ter dito a dela jogando a Jacqueline Kennedy dum penhasco. Se não fosse de antes de Onassis a ter trocado, pff, certeza que era nisso que ela estaria pensando no exato momento da foto. 




Hoje compreendi bem as donas de casa, que se correm arrumadeiras pela sala-cozinha-quarto, e então descobri um novo prazer: lavar a louça. Estou precisando mesmo é descobrir prazer em arrumar meu quarto, que aquilo anda uma bagunça total; dizem que nosso quarto é um reflexo da gente por dentro, me rio [e como fica feia essa conjugação!, caramba], estou danado da vida se for verdade, rs, se bem que minha estante está bem organizada, a coloquei em ordem esses dias, as únicas coisas bagunçadas são as contas que saem de todo lugar, debaixo da cama, entre livros, no corpo do violino, rs, e os papéis de maquete que restaram da arquitetura, talvez fiquem lá por um tempo para eu me lembrar que não tenho problema algum com ela, que eu até gostava de fazer maquetes por mais chatas que elas fossem, e que também é um desperdício eu deixar de me expor ao mundo como arquiteto, rs. Mas enfim, a coisa de lavar a louça, penso fazer parte de um se acostumar. É o que estou tentando: me acostumar, acostumar a ficar d'alma manca durante a semana, ou como Donana Cabriola, uns bons meses de post para trás, que deu um suspiro tão profundo que passou a andar encurvada, adoro essa imagem, faz parte de um conto fantástico da tia Augustinha, enfim, tudo parte de um se acostumar provisório, espero, que ano que vem chega rápido assim como esse estava vindo passou e daqui pouco se acaba. 
Estou sentando me forçando escrever algo, me combinei isso para tentar certa manutenção aqui, diz Lyanna que meu blog merece mais atenção, e a Lyanna não é um alter-ego, quero deixar claro pois ela tanto aparece por aqui, mas duvido ser algum leitor esteja sem esse conhecimento, não divulgo blog, então a explicação se torna desnecessária, rs.
O que de mais importante aconteceu nessa semana foi um longo período de entretenimento na wikipédia, algo que espero se tornar um vício-passatempo, que aquilo é bom demais, gente. Aprendi tanto da cultura fínica, Sibelius [aaah!], Fennoman, Svecoman, que o finlandês não tem futuro como tempo verbal, uma loucura, só se fala de presente e passado, pessoal saudosista, rs, enfim. 
Também descobri que meus planos são um pouco mais complicados que pensava. Grande surpresa, não sempre o são?


sábado, 1 de agosto de 2009



Olha, que o mundo anda girando girando por aí em torno de si, em torso de si, ou do sol, enfim, todo por aí entediado e cheio do próprio peso há algum tempo não é segredo pra gente, rs, a quem só cabe acreditar, nós-simples-nada-cientistas, 

e vamos acreditando e acreditando, Lyanna esses dias disse da beleza das estrelas brilhando mortas no céu, uma beleza de metáfora, mesmo que comprovada, fonte bem confiável, coisa mais linda, e as vermelhas nem eram as mais quentes, rs, todas se podendo dressed to kill, enfim, que importa, mortinhas mortinhas, 
e ainda dizem que não precisamos nos preocupar com as coisas que andam vivas por aí e sim com as já passadas, mas enfim, que o mundo anda girando por aí todo certo de si e, ainda pior, certo de que vai continuar se girando até que o bom deus resolva soltar a prostituta da Babilônia por aí [me corrija, Lyanna, minha única amiga que teve a decência de ler a Bíblia, rs, caso esteja errado] e fazer soar a anunciação [falar em anunciação não aguento mais escutar as de noiva, tocar em casamento pra tirar um extra, pff, tirando mesmo é meu sério], enfim, é, talvez, a única coisa que a gente pode ter tanta certeza, digo incluindo um grupo de certezas científicas, mesmo assim vai saber, vou bater na surrada tecla de que há um tempo certeza era que a Terra era plana e o horizonte era uma queda d'água sem fim, uma imagem tão bonita que dá pena sua falta de verdade, que há um tempo certeza era que a Terra era o centro do universo, pessoal egocêntrico, rs, 

e eu ainda ousei com tanta convicção no dia 15 de maio deste ano [deu tanta vontade de escrever dêste, acho farmácia com ph um mimo], ousei dizer que continuaria minha vida como estava, ousei achar que conseguiria manter estabilidade, mas aquele pinga-pinga irritante do 8 de abril de 2008 aqui, pingando-pingando, todo na consciência de que água mole em pedra dura tanto bate até que fura, porque hoje me sinto popular, rs, e então se continuou pingando até que um momento de lucidez, mesmo que uma lucidez explosiva, pois havia de ser explosiva ou se resignaria num primeiro feixe de luz, o momento de lucidez veio, num impulso mas num impulso definitivo, espero, porque agora talvez não haja mais tempo para dúvidas, hoje estou popular adolescente, rs, mas sempre lembrando que além de mortas-estrelas brilhando numa brincadeirinha de deixar vivas lembranças, também existem wormholes, blackholes, 
a quantidade infinda de holes por aí tão traiçoeiros, mas enfim, isso fica por conta das miniaturazinhas de idéia e pensamento que tanto se chama de maquete, blablabla, nunca mais quero encostar a mão num papel triplex por conta de faculdade alguma, resumindo é isso, vou ficar rico e comprar a batuta do Mahler, deve estar em algum museu da Áustria mas eu compro, e sair regendo por aí, porque hoje estou popular adolescente inocente, 
acreditando tudo dar certo, o feche de luz lá atrás passando por um cristal e se abrindo num leque de vida, ahm, não sou certo dessas coisas todas de física, volto a mim:
ok, não conto com tanta boa vontade desse mundo ocupado em se achar no próprio eixo, e então sair regendo por aí ainda que uma orquestra imaginária, aqui dentro da cabeça, e vou ser um tanto piegas agora mas vou ter que admitir que, mesmo nessas circunstâncias, vou ser um tanto feliz.



segunda-feira, 20 de julho de 2009


Era por fragilidade de corpo, tinha os ossos bem fracos, era por fragilidade de corpo que mantinha seu santuário de segredos.
Acordava de manhã, se levantava e olhava a imagem refletindo simples no espelho. E pensava o quanto era secreta. Então escovava os dentes de cigarro para se sentir mundana, 
e ia para o ponto de ônibus.


segunda-feira, 13 de julho de 2009


"Quando chegares a minha idade, 
terás perdido quase por completo a visão. Verás a cor amarela e sombras e luzes. 
Não te preocupes. 
A cegueira gradual não é uma coisa trágica. É como um lento entardecer de verão."

Borges, O livro de areia






Já há tempo venho pensando em, já há tempo havia havendo (rs, para Pi e Beto), mas me demorei até sentar e escrever (todo na pretensão chamando isso de produção escrita, ah, me poupa Victor). Enfim,
tente, vai olhando pro longe, deixando que se perca a vista, saindo de foco, ficando mais fora de.
Acontece que as coisas vão se pincelando, pouco a pouco, meio Monet; e tudo vira plano, uma tela, bela tela, e então se pode, ao menos se sente poder, então se pode olhar tudo como espectador. Mero espectador. 
Não é que as coisas estejam ruins (contrário, ando um deslumbre!), mas adquiri o hábito/vício de ver aqui lá, meio de longe, meio de canto de olho. Mas só de vez em quando, como por diversão, rs. Enfim, nada sério e bem sem ponto.



sábado, 13 de junho de 2009



À Aline, que, diz-se, só citava.
(à Aline mas não no que tange à temática, Nine fofa mais linda que tá em casa estudando)

"A estrada subia muito. A estrada era mais bonita que o Rio de Janeiro, e subia muito. Mocinha sentou-se numa pedra que havia junto de uma árvore, para poder apreciar. O céu estava altíssimo, sem nenhuma nuvem. E tinha muito passarinho que voava do abismo para a estrada. A estrada branca de sol se estendia sobre um abismo verde. Então, como estava cansada, a velha encostou a cabeça no tronco da árvore e morreu."
O grande passeio, Felicidade Clandestina.

Meio piegas. [para não apagarem meu blog, rs].


sexta-feira, 15 de maio de 2009


Então, por causa do último post firmei contrato com a Arcor.
Mas enfim, o que interessa: conversando com o maestro Emílio de César (rápida biografia), por um acaso pai da minha professora de piano/música de câmara, escutei "largar Arquitetura, nunca!". A luz veio de cima.
Agora é ir adiante com planos: montar meu quarto de estudos, vai ficar lindo!, computador, estantes, prancheta, piano, ai, e pegar o piano pra estudar de verdade, já que ele me colocou uma meta de Estudos do Chopin e Sonatas do Beethoven (!)

quarta-feira, 6 de maio de 2009



que nem precisava de mais, pero bien, que se pasó:
Eu estava assistindo Turandot ontem, pois ando compulsivo com, fumando a cigarrilha de mel que comprei já pensando em tal fim, uma delícia. Tudo indo muito bem, gira la cote, aquela coisa toda.
Então no final aqueles aplausos todos, uma salva para Plácido Domingo, que Ignoto!, outra para Leona Mitchel, melhor Liù que já escutei. Quando entra Eva Marton o teatro cai aos seus pés, a câmera abre, aparece o teatro, e ela recebe uma chuva de flores. E eu começo a chorar.
A questão é: por saber que não vou me realizar de tal forma ou por a arquitetura do Metropolitan Opera House de NY ser linda?
um pirulito pra quem adivinhar.

p.s.: nem falo das traças do blog que é capaz de se organizarem num motim.


terça-feira, 24 de março de 2009


Theatro S. Joaquim
Empresa Recreio Goyano
CINEMATOGRAPHO PATHÈ FRÊRES
Estrèa-Hoje-Estréa
A's 8 horas da noite, com um program-
ma explendido e magnifico
Variadas fitas
COMICAS,
DRAMATICAS E
PHANTASTICAS
As Exmas. familias que quiserem
poderão mandar cadeiras para
as galerias
Entradas:
Geral: 2.000
Cadeiras: 3.000
OS BILHETES ACHÃO-SE Á VENDO
NA PHARMACIA S.DOMINGOS E NAS CA-
SAS DOS SRS. FELIPPE BAPTISTA, FRAN-
CISCO DE BASTOS E BICHARA SADDI.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Indeed


Então, estava andando pelo setor Oeste, passando numa daquelas ruazinhas que não sei nomear. Dobro a rua e, sentado, um rapaz na cadeira muito bem colocada na esquina, sentinela, na camiseta sou fiel, sou de deus, alguma coisa assim, um novo testamento daqueles pequenos azuis na mão, lendo alto, porém para si, esperando, esperando o quê, Eu. 

Pressenti. Tentei passar silencioso, rápido, despercebido. Rá!, passei. Quando levei a mãe à testa, alívio, psiu!, moço volta aqui, deixa eu falar com você. Sou uma pessoa educada, voltei.

Jesus te ama (oO). Os olhos fixos no meu nariz. Jesus te ama. (AAAAAH, meus piercings clamando perdão). Engraçado que só estava passando por ali por estar voltando do banco, tinha acabado de ter a prova que multiplicar coisas não dá, fazer algo virar vinho, pff, dinheiro então quem dera. Jesus te ama (pô, Jesus podia ser meu gerente do Banco Real). Leva sua família também pra igreja. A volta de Jesus está próxima. Ele ainda pode te acolher, você ainda pode ser salvo. Ele olhava tão piedosamente pra mim que a única coisa que pude fazer foi dizer: obrigado.

Ele, provavelmente, achando que aceitei Jesus em meu coração, Eu agradecendo por ele ter me dado um post de graça, nesses tempos em que ando com a cabeça tão em outro lugar que nem penso em blog.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009



Sabe, você parece estar tão sóbria. Tão absorta em realidade, eu disse. 
- Que nada, estou mesmo é fugindo dela.

Ah, ela está tão sóbria. Tão absorta em realidade. 



sábado, 17 de janeiro de 2009

Em resposta: o verão





Depois de três longos meses desde o último post que fiz, 36.519 moscas e 732 bolotas de feno ao melhor estilo western. Aqui estou, sentado na sacada por adorar um wi-fi, o sol já caindo de lado bem do jeito que deixa meu olho esverdeado. Esse verão foi bem melhor que o passado. Bem como pedi: sem tormenta, desmoronamento e tempestades (perdão aos catarinenses). E tem tanta coisa que nem sei bem por onde começar a dizer. Não que realmente haja tanta coisa assim, mas ainda há certa desorganização em minha mente quanto a. Ok.





-
Deitado na rede, ainda em Brasília, me lembrei de algo. Lembrança antiga, mas daquelas que sem se ver ficam guardadas com tanto carinho. Estávamos eu e minha mãe aguardando férias para ir a Goiás, como sempre. Quem já estava entre o brilho dourado da serra dizia só haver chuva e almôndegas, que a bisa sempre pede à cozinheira. Quando finalmente chegamos, não havia sinal d'água. Fazia aquele céu lindo tão raro de se ver, sem nuvem alguma, tão azul quanto meu daltonismo (que exagero!) me permitiu perceber. E aí a bisa nos disse vocês trouxeram o sol, com olho calmo e expressão serena de entendimento: há sempre quem nos traga sol.

-
Decidi me dedicar o máximo possível agora. A tudo, na verdade, mas a faculdade grita.
Veja bem: desperdicei um ensino médio que poderia ter sido fabuloso por emaranhado caótico de vida (não que esse emaranhado não me persiga até hoje), perdi PAS, perdi um vestibular por estar viajando e fugindo, como ainda tento fugir, perdi a chance de ser um exímio violinista por no começo desenvolver muito rápido e ficar acomodado achando que teria 14 anos pra sempre.
Não vou fazer a mesma coisa com a Arquitetura.

-
Ok de novo. Não consigo escrever decentemente agora, tento depois.



domingo, 12 de outubro de 2008

Considerações primaveris

1 - Do golpe


"No te engañó la primavera
con besos que no floreciéron?"


XLVI, Livro de las preguntas, Pablo Neruda.


Ou todas aquelas pequenas flores amarelas que só fazem cair. Há por toda Goiânia. E então uma rua-tapete de florescidas que só caem e passam.




2 - Da auto-sabotagem

Pior sempre é um coração partido que não teve por quem se partir.




3 - Da sorte


Acontece que, de vez em quando, quando aquelas flores estão caindo, aquelas lá da primeira consideração, quando aquelas flores estão caindo, caso se ponha bem na ponta dos pés, esticando bastante o corpo todo, os braços, quando aquelas flores estão caindo por sorte talvez se consiga segurar uma delas bem entre os dedos, meio escorregando de leve. Na ponta dos dedos mas então você se concerta, põe os dois pés no chão e a segura certa porém delicadamente na palma da mão. Ou pelo menos é isso que se espera.


-


Em relação à primavera penso não comentar mais nada [a não ser que algo de surja com relevante pedido]. Aí ficam pra daqui um tempo comentários de verão. Aí se entra na questão da expectativa: para esse, um pedido um pouco difícil de se esperar da vida. Sem exageros de chuva, nada de desmoronamentos ou catástrofes. Enfim.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Correção

Por justiça: a letra do experimento de composição é um poema. Um poema do Cazarim. E, por mais justiça ainda, posto aqui parte de:



Noturno

Todo céu de noites é
Roxo como um hematoma

As estrelas cintilando são
cínicas delicadezas de uma violência.



Pode-se ver que o hematoma real é só no tipo de catarse.
Tomba, Victor, tomba.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

obs.: meu post multimídia não funciona.

tópico primeiro - Pedantismo


Soube esses dias. 
"O céu parece um hematoma roxo." 
Imagine só! uma soprano cantando isso. Imagine uma soprano cantando isso numa linguagem musical incompreensível [não incompreesível no sentido de que, um dia, ainda será compreendida e que, agora, ainda não estamos preparados para; incompreensível no sentido de "meu deus, como alguém conseguiu escrever isso"]. Letra da própria compositora! 
Se eu fosse ela, acordaria to-dos-os-dias pensando como sou vanguarda. Mo-der-na.

Mas tentaria lembrar também de TANTA coisa. Como exemplo, que na década de 50 John Cage fez 4'33". A orquestra entra, o maestro entra. Primeiro movimento. Segundo, terceiro. Nenhuma nota. No final, larga a batuta, puxa o lenço e da testa limpa o suor. Nenhum hematoma nem na letra nem na música e, last but not least, muito menos na platéia. Nenhuma nota.

Muito mais vanguarda e muito mais moderno. Na década de 50. 
E de um bom gosto muito maior. 
[ainda acho que a música deve ter um efeito catársico na platéia. mas discutir essas coisas de conceito ok, fica pra próxima]

[e, como também sou moderno, rs, um post multimídia!]

terça-feira, 23 de setembro de 2008



"Donana Cabriola suspirou tão fundo que passou a andar encurvada."




sábado, 13 de setembro de 2008



às vezes a gente mendiga um pouco amizade por sei lá que razão.


quinta-feira, 4 de setembro de 2008



"My smile becomes a stone
And my chest is open in dreams
For knowing that one day
The world was lost in songs."


Technicolor, dia 6, Martim Cererê.




"O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em qundo para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo."

Alberto Caeiro.


 

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