sábado, 7 de maio de 2016


guardo Bruckner (mais especificamente seus primeiros movimentos da sétima ou nona sinfonia, a depender do dia - qual seu fim?, busca de luz mi maior, crepuscular desistência em aceite ré menor?) para raros momentos, quando há o tempo a correr silente os caminhos da casa, passando pelas coisas e bichos, quando os vincos entre os tacos de madeira antiga destes apartamentos se abrem em grandes cânions, madeira em carne, altíssimas paredes pulsantes, eu no meio bem me sabendo rodeado das próprias insuportabilidades, o cozimento lento das linhas melódicas infindas tratadas das diversas formas possíveis expandidas acrescentadas rasgadas adocicadas aquietadas brutas beleza perversão moldante plácidas deuses resquícios amabilidades quietamente furiosas ilimitando as fronteiras, as minhas a música, minuciosa vistoria e revisão, as perspectivas várias, o clímax que se desfaz enquanto ainda não se sabe ápice, os vinte e cinco minutos para que se conclua um princípio que não se esqueceu, porém tão diferente pois metamórfico, as codas cobrindo enormemente o chão. Guardo Bruckner pra quando preciso ouvir outrem percorrendo aqueles que meus caminhos diários - o lento e grave movimento do mais belo dos planetas orbitando retrógrado em mapa os pesos imensuráveis, astrologias cármicas, senhor dos tempos regendo organizações celulares involuntárias inconscientes cíclicas, materialização de princípios, eterno retorno erro, os anéis vistos de longe (porém não mais que poeira e resquícios) apontando firmemente os lugares-lacunas do preenchimento radiando a descoberta: preenchimento em si, tolham-se projeções - guardo Bruckner pra quando preciso ouvir outrem percorrendo aqueles que meus caminhos, a fim de tornar acompanhada esta lida diária tão só. 


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