quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Mahler insiste em aparecer por aqui. Por aqui quero dizer no blog, quero dizer em mim. Mahler aparece pouco onde devia mais aparecer. Mas por aqui insiste em vir. Sehr langsam und noch zurückhaltend, porque não se pode terminar num burleske, mesmo que não seja um burleske qualquer, mesmo que seja um dramático burleske mahleriano. Há de ser um sehr langsam, há de se acabar sem que se perceba, de forma que as cordas fiquem cada vez mais piano, piano, pianíssimo, até que depois de certo tempo se perceba que elas pararam de tocar porque a dor de escutá-las se foi.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Acabei de acordar do pequeno intervalo entre as aulas da manhã e da tarde. E sonhei que estávamos num carro, nós dois na frente. Tinha uma criança indo para lá e para cá. Te perguntava por quê diabos nunca havia me contado que tinha uma filha, era uma menina. E eu disse para ela: vem cá. Estávamos num túnel, qualquer coisa assim, mas era num lugar familiar. Perguntei seu nome, ela disse "Patrícia. Não, Matrícia. Hehe, Patrícia mesmo, te enganei", e me disse que tinha medo das pessoas, se encolhendo no meu peito. E eu a abracei e disse calma, Patrícia, nem todo mundo nesse mundo é ruim, e já acordei chorando.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Quando o morador de rua que te pediu um cigarro diz "mano, tu tem cara de maluco hem?", saiba que este é um dos ápices da sua vida, rs. 
Então se rosna para ele.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

no pátio do Departamento de Música há um flamboyant ou um bougainville, também nunca sei qual, 
que germina cresce floresce sombreia e deixa cair seus vestígios vermelhos no chão.
 e não se repara.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

há muito tempo, Lyanna comentou num post:

Minha psicóloga me disse também há anos que o quarto era reflexo do interior. De onde se tira isso? Mentira, ela só queria que eu deixasse minha mãe feliz dando um jeito nos bichos que, isso sim, é abiogênese, surgiram dentro da minha gaveta. Uma grande balela, a gente nunca consegue  se arrumar por dentro. Logo, não faz sentido arrumar o quarto. Ou alguém ainda pensa que um guarda-roupa em ordem de cor é esteticamente mais viável do que as blusas nadando no chão? Que retrô.

e neste momento, grande bobeira praticalizar [????, rs] só neste momento, estou fazendo um esforço mahleriano para internalizar. blusas-no-chão-blusas-no-chão-dá-pra-viver-com-blusas-no-chão. E calças e livros e partituras e caixas, meias, fones de ouvido, celulares que o meu estragou e agora tenho dois, e sacolas e chinelos e tênis e enfim vou dormir ou amanhã acordo com o blog cheio de arrependimentos escritos.


"Depois do terremoto, que havia destruído três quartos de Lisboa, os sábios do país não encontraram um meio mais eficaz para prevenir uma ruína total do que proporcionar ao povo um belo auto-de-fé; fora decidido pela Universidade de Coimbra que o espetáculo de algumas pessoas queimadas a fogo baixo, com grande cerimonial, é um segredo infalível para impedir a terra de tremer.
[...]
A mitra e o sambenito de Cândido traziam pintados chamas inclinadas e diabos sem rabos nem garras; mas os diabos de Pangloss tinham garras e rabos e chamas verticais. Assim vestidos saíram em procissão, e ouviram um sermão seguida de bela música em fauxbourdon. Cândido foi açoitado em cadência, enquanto cantavam; o biscainho e os dois homens que não quiseram comer toicinho foram queimados, e Pangloss foi enforcado, conquanto não fosse esse o costume. No mesmo dia, a terra voltou a tremer com um estrondo assustador.
Cândido, aterrado, transtornado, desvairado, todo ensangüentado, todo palpitante, dizia consigo: 'se é este o melhor mundo possível, como serão então os outros? Vá lá que eu apenas fosse açoitado, já o fui entre os búlgaros. mas meu caro Pangloss, maior dos filósofos, era preciso ver-vos enforcar, sem saber por quê! Meu caro anabatista, o melhor dos homens, era preciso ver-vos afogar no porto! Senhorita Cunegundes, pérola das donzelas, era preciso que vos abrissem o ventre!' ".



flautim, quatro flautas, quatro oboés [corne-inglês dobrado], clarineta em mi bemol, três clarinetas em si bemol e lá, clarone, quatro fagotes [contra-fagote dobrado]
quatro trompas, três trompetes, três trombones, tuba
tímpanos, bombo, caixa, pratos, triângulo, tam-tam, três sinos, glockenspiel
duas harpas, violinos I, violinos II, violas, violoncelos, contra-baixos.


- Andante comodo.
- Im tempo eines gemächilichen Ländlers; Etwas täppisch und sehr derb.
- Burleske; Sehr trotzig.
- Sehr langsam und noch zurückhaltend.

em uma noite só, para que fique garantida a clareza.

terça-feira, 28 de setembro de 2010



não raro [ou melhor, freqüentemente, quando minha indecente relutância - em me lembrar que costumava, vez em quando, dar uma de quem escreve algo - resolve dar uma pausa] não raro escrevo sob influência de catástrofes climáticas, com o perdão de quem, de fato, já sofreu uma, rs; 
fato é que a paisagem do cerrado brasiliense se permitiu hoje ser vítima de uma tempestade de poeira que deixou tudo tão cinza, questão que me deixou com leve curiosidade por essa cidade não se dar nem ao trabalho de colorir de marrom o que era para ser azul. Mas cinza. Poeira poeira. Mas poeira pra mim é marrom. 
Enfim, passado o vento no céu, este se coloriu [e colorir aqui se torna uma palavra completamente inadequada] de cinza nos horizontes todos, e subindo, subindo, um cinza azulado, e subindo, um cinza esbranquiçado. E me sentei na sacada tentando - em divertido aproveitamento de fim de tarde - tentando decifrar se era céu-azul-acinzentado, se era nuvem de chuva carregada, se era céu-branco-acinzentado, ou se era nuvem cinza de poeira. Era tudo numa textura tão homogeneizada de cinza-azul cinza-branco e cinza-cinza que eu não sabia dizer que coisa era que coisa. 
E me diverti pensando que um dos pontos da vida é justamente esse: tentar descobrir se nuvem é céu, se céu é poeira ou se poeira é vida. No final das contas, depois de tanta seca, há de ventar para chover.
Ai ai. Tou ficando brega. 
Beijo, Ly.



terça-feira, 6 de julho de 2010



Hoje me coloquei debaixo d'água e me lavei, me lavei de o que havia ficado desde Março, água escorrendo ora vermelha, ora transparente e líquida como se é água, ora meio marrom terra, granulada e áspera como. And inside we are still wet.

Meu semestre foi o prelúdio da Traviata. Antes com ritornelos, cortes e recortes e re-exposições de temas.
Agora, meu semestre foi o prelúdio da Traviata. Da capo al fine.
Agora, hoje.


segunda-feira, 5 de abril de 2010



Na quarta-feira, sim, sei, há tempo, mas não me adapto à internet e ao blog e às suas funções de comunicação instantânea por gostar do coser e etc etc, na quarta-feira passada o céu amanheceu salpicado das nuvens novas que acabavam de se formar subindo dos tantos gramados de Brasília, eu adoro essa coisa meio fantástica da nuvem e gosto também de pensar assim [com mais uma descida, rs] da chuva, apesar de o Beto me insistir que pouquíssimas chuvas são d'água subida do chão, porque eu questionava todo o tempo o seco de Brasília [and inside, we're all still wet] se há um lago para quê. O céu estava salpicado dessas nuvens de um jeito uniforme que estava tão bonito, como que meticulosamente posicionadas, umas atrás das outras, e eu não ousaria dizer, apesar de, como alguém que, não me lembro exatamente quem nesse momento, gosta tanto de lembrar que escreveu Clarice, talvez seja eu mesmo e não me faça a ligação, apesar de, não ousaria dizer que ele estava ironicamente belo, o céu, praticamente se atrevendo a ser somente encorajador. Então fui tomar um café naquela padaria da quadra, como ainda pretendo fazer tantas e tantas vezes, mas em melhor companhia que todos meus assombros dessa quarta, meus assombros de amor e distância e saudade.



sábado, 20 de fevereiro de 2010



"Quando [Mahler] partiu para os Estados Unidos, um conclave de espíritos progressistas de Viena se reuniu para lhe dar adeus. 'Vorbei', murmurou Gustav Klimt quando seu trem arrancou."



 

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