sábado, 12 de março de 2011



Ontem, num dia cinematograficamente chuvoso, tiveram que tirar minha bisavó de cima do caixão do meu tio-avô. Aquele tio, porque nunca foi tio-avô mas só tio, aquele tio que quando criança passava medo com a escada de cimento no fundo do quintal do casarão de Goiás, dizendo ser ali o canto de fumo da Muda, criada que morreu quando ele criança, mas que ainda freqüentava a casa por costume. Que chamava de Vitoca o primeiro sobrinho-neto, que sempre foi só sobrinho. Que dizia que a mãe tinha letra e pés de princesa, num rubor em seus oitenta e tantos anos. Ela, que com letra e pés de princesa, sua mãe, mãe de minha vó, vó de minha mãe e minha bisavó sempre vó porque foi sempre só vó, ela que com letra e pés de princesa ontem precisou ser tirada de cima do caixão para que finalmente o pudessem descer para descansar da diabetes, da hérnia, do coração que há muito falhava, da família, dos tudo que se guarda dentro, porque uma hora se há de descansar.
E eu poderia dizer tanto sobre porque dizer sobre diz sobre mim, mas não há muita vontade além da de descrever a cena. A cena deve dizer tudo, a cena da bisavó que sempre foi só vó enterrando o tio-avô que sempre foi só tio e contava histórias de entidades e não deixava dormir. Sou eu. Árvore, raiz, que imagem piegas. Porque talvez não interesse muito se de fato existem dimensões diferentes para cada escolha, esse é o tipo de questionamento que nos deixa numa waltz for all life, o importante é só a tormenta do Se não ser maior que a força da vida estourando microscopicamente nossos poros, se numa dimensão se noutra ou se tudo só é,



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