sábado, 2 de abril de 2016


das certezas, se os anos as me deram: uma delas é não me ter sido permitido o dom do passa-tempo fácil e indolor - vistas as sequências de casualidades e os efeitos das causalidades (e, se me permito breves elocubrações egóicas, rápido me concluo em conspirações sistêmicas de astros - ai, retrógrado Saturno em meu mapa de céu - ou ainda cármicos determinismos) - pois a aparente placidez no semblante, o riso fácil e a clareza dos olhos me velam ao mundo feroz selvageria interior (não felina veloz afiada - espessa selvageria qual magma em lento movimento interno de altíssimas pressões, calor e destrutiva incandescência), - penso enquanto, no espelho - ilusão ótica - retiro, um a um, estes pêlos grossos que me unem as sobrancelhas, estas farpas da minha humanidade orgânica pinçadas voluntariosamente em tentativa de meticulosa ação das mãos - que sabendo-se da sequência dos anos, supõe-se , não miram tão firmes, e, errantes, porém eficientes, ajudam adornar o de fora para tentar, quem sabe, o de dentro permanecer intacto e invisível, ah: estes ocultismos aos quais nos forçam as circunstâncias em prol da preservação destes cristais e diamantes, gestados dos nossos carbonos internos para que, quando só, seja possível se permitir abrir a janela (persianas coloniais de madeira) e residir, neste momento átimo, na refração de luz destas infusíveis tetraédricas formas de rearranjo molecular - já esta uma certeza das constantes físicas, isentas de autoengano: o reiterado maravilhamento das formas prismáticas dispersando branca luz em cor.


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