segunda-feira, 20 de julho de 2009


Era por fragilidade de corpo, tinha os ossos bem fracos, era por fragilidade de corpo que mantinha seu santuário de segredos.
Acordava de manhã, se levantava e olhava a imagem refletindo simples no espelho. E pensava o quanto era secreta. Então escovava os dentes de cigarro para se sentir mundana, 
e ia para o ponto de ônibus.


segunda-feira, 13 de julho de 2009


"Quando chegares a minha idade, 
terás perdido quase por completo a visão. Verás a cor amarela e sombras e luzes. 
Não te preocupes. 
A cegueira gradual não é uma coisa trágica. É como um lento entardecer de verão."

Borges, O livro de areia






Já há tempo venho pensando em, já há tempo havia havendo (rs, para Pi e Beto), mas me demorei até sentar e escrever (todo na pretensão chamando isso de produção escrita, ah, me poupa Victor). Enfim,
tente, vai olhando pro longe, deixando que se perca a vista, saindo de foco, ficando mais fora de.
Acontece que as coisas vão se pincelando, pouco a pouco, meio Monet; e tudo vira plano, uma tela, bela tela, e então se pode, ao menos se sente poder, então se pode olhar tudo como espectador. Mero espectador. 
Não é que as coisas estejam ruins (contrário, ando um deslumbre!), mas adquiri o hábito/vício de ver aqui lá, meio de longe, meio de canto de olho. Mas só de vez em quando, como por diversão, rs. Enfim, nada sério e bem sem ponto.



sábado, 13 de junho de 2009



À Aline, que, diz-se, só citava.
(à Aline mas não no que tange à temática, Nine fofa mais linda que tá em casa estudando)

"A estrada subia muito. A estrada era mais bonita que o Rio de Janeiro, e subia muito. Mocinha sentou-se numa pedra que havia junto de uma árvore, para poder apreciar. O céu estava altíssimo, sem nenhuma nuvem. E tinha muito passarinho que voava do abismo para a estrada. A estrada branca de sol se estendia sobre um abismo verde. Então, como estava cansada, a velha encostou a cabeça no tronco da árvore e morreu."
O grande passeio, Felicidade Clandestina.

Meio piegas. [para não apagarem meu blog, rs].


sexta-feira, 15 de maio de 2009


Então, por causa do último post firmei contrato com a Arcor.
Mas enfim, o que interessa: conversando com o maestro Emílio de César (rápida biografia), por um acaso pai da minha professora de piano/música de câmara, escutei "largar Arquitetura, nunca!". A luz veio de cima.
Agora é ir adiante com planos: montar meu quarto de estudos, vai ficar lindo!, computador, estantes, prancheta, piano, ai, e pegar o piano pra estudar de verdade, já que ele me colocou uma meta de Estudos do Chopin e Sonatas do Beethoven (!)

quarta-feira, 6 de maio de 2009



que nem precisava de mais, pero bien, que se pasó:
Eu estava assistindo Turandot ontem, pois ando compulsivo com, fumando a cigarrilha de mel que comprei já pensando em tal fim, uma delícia. Tudo indo muito bem, gira la cote, aquela coisa toda.
Então no final aqueles aplausos todos, uma salva para Plácido Domingo, que Ignoto!, outra para Leona Mitchel, melhor Liù que já escutei. Quando entra Eva Marton o teatro cai aos seus pés, a câmera abre, aparece o teatro, e ela recebe uma chuva de flores. E eu começo a chorar.
A questão é: por saber que não vou me realizar de tal forma ou por a arquitetura do Metropolitan Opera House de NY ser linda?
um pirulito pra quem adivinhar.

p.s.: nem falo das traças do blog que é capaz de se organizarem num motim.


terça-feira, 24 de março de 2009


Theatro S. Joaquim
Empresa Recreio Goyano
CINEMATOGRAPHO PATHÈ FRÊRES
Estrèa-Hoje-Estréa
A's 8 horas da noite, com um program-
ma explendido e magnifico
Variadas fitas
COMICAS,
DRAMATICAS E
PHANTASTICAS
As Exmas. familias que quiserem
poderão mandar cadeiras para
as galerias
Entradas:
Geral: 2.000
Cadeiras: 3.000
OS BILHETES ACHÃO-SE Á VENDO
NA PHARMACIA S.DOMINGOS E NAS CA-
SAS DOS SRS. FELIPPE BAPTISTA, FRAN-
CISCO DE BASTOS E BICHARA SADDI.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Indeed


Então, estava andando pelo setor Oeste, passando numa daquelas ruazinhas que não sei nomear. Dobro a rua e, sentado, um rapaz na cadeira muito bem colocada na esquina, sentinela, na camiseta sou fiel, sou de deus, alguma coisa assim, um novo testamento daqueles pequenos azuis na mão, lendo alto, porém para si, esperando, esperando o quê, Eu. 

Pressenti. Tentei passar silencioso, rápido, despercebido. Rá!, passei. Quando levei a mãe à testa, alívio, psiu!, moço volta aqui, deixa eu falar com você. Sou uma pessoa educada, voltei.

Jesus te ama (oO). Os olhos fixos no meu nariz. Jesus te ama. (AAAAAH, meus piercings clamando perdão). Engraçado que só estava passando por ali por estar voltando do banco, tinha acabado de ter a prova que multiplicar coisas não dá, fazer algo virar vinho, pff, dinheiro então quem dera. Jesus te ama (pô, Jesus podia ser meu gerente do Banco Real). Leva sua família também pra igreja. A volta de Jesus está próxima. Ele ainda pode te acolher, você ainda pode ser salvo. Ele olhava tão piedosamente pra mim que a única coisa que pude fazer foi dizer: obrigado.

Ele, provavelmente, achando que aceitei Jesus em meu coração, Eu agradecendo por ele ter me dado um post de graça, nesses tempos em que ando com a cabeça tão em outro lugar que nem penso em blog.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009



Sabe, você parece estar tão sóbria. Tão absorta em realidade, eu disse. 
- Que nada, estou mesmo é fugindo dela.

Ah, ela está tão sóbria. Tão absorta em realidade. 



sábado, 17 de janeiro de 2009

Em resposta: o verão





Depois de três longos meses desde o último post que fiz, 36.519 moscas e 732 bolotas de feno ao melhor estilo western. Aqui estou, sentado na sacada por adorar um wi-fi, o sol já caindo de lado bem do jeito que deixa meu olho esverdeado. Esse verão foi bem melhor que o passado. Bem como pedi: sem tormenta, desmoronamento e tempestades (perdão aos catarinenses). E tem tanta coisa que nem sei bem por onde começar a dizer. Não que realmente haja tanta coisa assim, mas ainda há certa desorganização em minha mente quanto a. Ok.





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Deitado na rede, ainda em Brasília, me lembrei de algo. Lembrança antiga, mas daquelas que sem se ver ficam guardadas com tanto carinho. Estávamos eu e minha mãe aguardando férias para ir a Goiás, como sempre. Quem já estava entre o brilho dourado da serra dizia só haver chuva e almôndegas, que a bisa sempre pede à cozinheira. Quando finalmente chegamos, não havia sinal d'água. Fazia aquele céu lindo tão raro de se ver, sem nuvem alguma, tão azul quanto meu daltonismo (que exagero!) me permitiu perceber. E aí a bisa nos disse vocês trouxeram o sol, com olho calmo e expressão serena de entendimento: há sempre quem nos traga sol.

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Decidi me dedicar o máximo possível agora. A tudo, na verdade, mas a faculdade grita.
Veja bem: desperdicei um ensino médio que poderia ter sido fabuloso por emaranhado caótico de vida (não que esse emaranhado não me persiga até hoje), perdi PAS, perdi um vestibular por estar viajando e fugindo, como ainda tento fugir, perdi a chance de ser um exímio violinista por no começo desenvolver muito rápido e ficar acomodado achando que teria 14 anos pra sempre.
Não vou fazer a mesma coisa com a Arquitetura.

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Ok de novo. Não consigo escrever decentemente agora, tento depois.



domingo, 12 de outubro de 2008

Considerações primaveris

1 - Do golpe


"No te engañó la primavera
con besos que no floreciéron?"


XLVI, Livro de las preguntas, Pablo Neruda.


Ou todas aquelas pequenas flores amarelas que só fazem cair. Há por toda Goiânia. E então uma rua-tapete de florescidas que só caem e passam.




2 - Da auto-sabotagem

Pior sempre é um coração partido que não teve por quem se partir.




3 - Da sorte


Acontece que, de vez em quando, quando aquelas flores estão caindo, aquelas lá da primeira consideração, quando aquelas flores estão caindo, caso se ponha bem na ponta dos pés, esticando bastante o corpo todo, os braços, quando aquelas flores estão caindo por sorte talvez se consiga segurar uma delas bem entre os dedos, meio escorregando de leve. Na ponta dos dedos mas então você se concerta, põe os dois pés no chão e a segura certa porém delicadamente na palma da mão. Ou pelo menos é isso que se espera.


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Em relação à primavera penso não comentar mais nada [a não ser que algo de surja com relevante pedido]. Aí ficam pra daqui um tempo comentários de verão. Aí se entra na questão da expectativa: para esse, um pedido um pouco difícil de se esperar da vida. Sem exageros de chuva, nada de desmoronamentos ou catástrofes. Enfim.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Correção

Por justiça: a letra do experimento de composição é um poema. Um poema do Cazarim. E, por mais justiça ainda, posto aqui parte de:



Noturno

Todo céu de noites é
Roxo como um hematoma

As estrelas cintilando são
cínicas delicadezas de uma violência.



Pode-se ver que o hematoma real é só no tipo de catarse.
Tomba, Victor, tomba.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

obs.: meu post multimídia não funciona.

tópico primeiro - Pedantismo


Soube esses dias. 
"O céu parece um hematoma roxo." 
Imagine só! uma soprano cantando isso. Imagine uma soprano cantando isso numa linguagem musical incompreensível [não incompreesível no sentido de que, um dia, ainda será compreendida e que, agora, ainda não estamos preparados para; incompreensível no sentido de "meu deus, como alguém conseguiu escrever isso"]. Letra da própria compositora! 
Se eu fosse ela, acordaria to-dos-os-dias pensando como sou vanguarda. Mo-der-na.

Mas tentaria lembrar também de TANTA coisa. Como exemplo, que na década de 50 John Cage fez 4'33". A orquestra entra, o maestro entra. Primeiro movimento. Segundo, terceiro. Nenhuma nota. No final, larga a batuta, puxa o lenço e da testa limpa o suor. Nenhum hematoma nem na letra nem na música e, last but not least, muito menos na platéia. Nenhuma nota.

Muito mais vanguarda e muito mais moderno. Na década de 50. 
E de um bom gosto muito maior. 
[ainda acho que a música deve ter um efeito catársico na platéia. mas discutir essas coisas de conceito ok, fica pra próxima]

[e, como também sou moderno, rs, um post multimídia!]

terça-feira, 23 de setembro de 2008



"Donana Cabriola suspirou tão fundo que passou a andar encurvada."




sábado, 13 de setembro de 2008



às vezes a gente mendiga um pouco amizade por sei lá que razão.


quinta-feira, 4 de setembro de 2008



"My smile becomes a stone
And my chest is open in dreams
For knowing that one day
The world was lost in songs."


Technicolor, dia 6, Martim Cererê.




"O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em qundo para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo."

Alberto Caeiro.


quarta-feira, 3 de setembro de 2008



Lyanna, me lembro sempre de você com este.

"A pesar de que el coronel Aureliano Buendía seguía creyendo y repitiendo que Remedios, la bella, era en realidad el ser más lúcido que había conocido jamás, y que lo demostraba a cada momento con su asombrosa habilidad para burlarse de todos, la abandonaron a la buena de Dios. Remedios, la bella, se quedó vagando por el desierto de la soledad, sin cruces a cuestas, madurándose en sus sueños sin pesadillas, en sus baños interminables, en sus comidas sin horarios, en sus hondos y prolongados silencios sin recuerdos, hasta una tarde de marzo en que Fernanda quiso doblar en el jardin sus sábanas de bramante, y pidió ayuda a las mujeres de la casa. Apenas habían empezado, cuando Amaranta advirtió que Remedios, la bella, estaba transparentada por una palidez intensa.
- ¿Te sientes mal? - le preguntó.
Remedios, la bella, que tenía agarrada la sábana por el otro extremo, hizo una sonrisa de lástima.
- Al contrario - dijo -, nunca me he sentido mejor.
Acabó de decirl, cuando Fernanda sintió que un delicado viento de luz le arrancó las sábanas de las manos y las desplegó en toda su amplitud. Amaranta sintió un temblor misterioso en los encajes de sus pollerines y trató de agarrarse de la sábana para no caer, en el instante en que Remedios, la bella, empezaba a elevarse. Úrsula, ya casi ciega, fue la única que tuvo serenidad para identificar la naturaleza de aquel viento irreparable, y dejó las sábanas a merced de la luz, viendo a Remedios, la bella, que le decia adiós con la mano, entre el deslumbrante aleteo de las sábanas que subían con ella, que abandonaban con ella el aire de los escarabajos y las dalias, y pasaban con ella a través del aire donde terminaban las cuatro de la tarde, y se perdieron con ella para siempre en los altos aires dondo no podían alcanzarla ni los más altos pájaros de la memória."


segunda-feira, 14 de julho de 2008


Conversando com o Beto, lembrei [não que, exatamente, já soubesse antes, mas é do tipo sabedoria popular, dito comum, aliás: óbvio] conversando com o Beto lembrei que quem não consegue decidir a própria vida faz um caos decidindo qualquer vida a dois.


terça-feira, 1 de julho de 2008



O fundo fica por conta da 10ª Sinfonia do Mahler. O quinto movimento, um finale Langsam, schwer, é de uma complacência com a morte linda de se escutar.
[não é um post suicida, mas tem uma dorzinha aqui por me sentir cansado como se tivesse grandes feitos sem ter absolutamente nada]


 

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